quarta-feira, 24 de outubro de 2018


Pedro Cosmos

NA CAMA - Na peça ambientada em um quarto de motel, Bruno e Daniela, dois estranhos estão se curtindo após terem se conhecido em uma festa de casamento. Lá, eles compartilham algumas de suas verdades e fantasias. Sem expectativas ou compromisso, o casal vai se revelando aos poucos, promovendo um encontro romântico o qual possibilita unir dois corações.
A comédia romântica desperta curiosidade até pelo título, porém a curiosidade maior vai ser conferir uma excelente proposta interpretada pela dupla de atores experiente formada por CRISTIANE WERSOM e PEDRO BOSNIC, jogando muito bem a vontade, em papéis que requer muita intimidade, delicadeza e cumplicidade.


                                                                                              Fotos de Kelson Spalato


A direção de Renato Andrade (Retratos & Canções, Se Não Tivesse Amor no Título?, Noite em que Blanche Dubois Chorou sobre Minha Pobre Alma, Os Veranistas e 3 Formas de Amar), esbanja talento e experiência acumulada conduzindo com toque de classe e elegância, com todas as ações muito bem preenchidas, resultando em um espetáculo leve e de muito bom gosto.


                                                                         Fotos de Kelson Spalato

O texto foi adaptado do filme homônimo do roteirista chileno Julio Rojas, com uma luz muito precisa e o cenário muito bem planejado, valendo apena conferir pelo trabalho bem cuidado.
SERVIÇO - TEATRO VIRADALATA -  R. Apinajés, 1387, Sumaré – Fone: 3868-2535.  Quinta: 21h. Ingresso: 40,00. Duração: 55 minutos. Classificação: 16 anos.

quarta-feira, 26 de setembro de 2018



Pedro Cosmos

QUARTO 19 –
Construído a partir do conto da escritora britânica DORIS LESSING e dirigida pelo excelente LEONARDO MOREIRA, o monólogo indica AMANDA LYRA ao Prêmio Shell 2018 de Melhor Atriz, sendo um enorme sucesso de crítica e público.

A atriz convence, está livre, leve e solta, além de uma beleza que transcende, sabe conquistar a plateia com sua interpretação ímpar.

Fotos: Cris Lyra
A peça conta a história de uma mulher de classe média casada e com quatro filhos que se vê despersonalizada pelo casamento burguês, pela maternidade e pela fragmentação de sua identidade feminina. Mulher de classe média que vive o que se conhece como um vida perfeita: tem um marido bonito e amoroso, três lindos filhos, uma bela casa, estabilidade material. Após anos sem trabalhar fora por escolha própria, para se dedicar à criação dos filhos, ela espera o momento em que o mais novo entrará para a escola, quando finalmente voltará a ter algum tempo para si. Mas quando isso acontece, ela não encontra dentro de si a liberdade que buscava. Numa tentativa de se livrar da irritação doméstica e do intenso ritmo familiar, ela decide alugar um quarto de hotel no centro da cidade, o quarto 19.
As questões abordadas pelo texto e pela encenação de Quarto 19 dizem respeito principalmente às mulheres, mas não só a elas. Nesse conto, Lessing aborda com simplicidade e força alguns de seus temas mais persistentes, como o cabo de força entre o desejo humano e os imperativos do amor, da traição e da ideologia, as tensões entre o doméstico e a liberdade, a responsabilidade e a independência. A construção da identidade, o trabalho para estabelecê-la, defini-la e refiná-la, talvez seja o fio que liga

SERVIÇO - TEATRO VIVO - Av. Dr. Chucri Zaidan, 2460, Morumbi – Fone: 3279-1520. Sábados: 21h, domingos: 19h. Ingressos: R$40,00. Duração: 75 minutos.
Classificação: 16 anos. Temporada: de 22 de setembro a 07 de outubro.

sexta-feira, 21 de setembro de 2018



Pedro Cosmos

NAVALHA NA CARNE

TONIA CARRERO, EMILIANO QUEIROZ e NELSON XAVIER viveram os polêmicos personagens há 50, sob o olhar de FAUZI ARAP. Tônia ganhou credibilidade da crítica, acostumada a vê-la interpretar personagens refinadas e se abster de toda a sua beleza e elegância em um personagem caótica, beirando a marginalidade, entrega esta, que lhe rendeu prêmios de melhor atriz.

O texto mais censurado de Plínio Marcos, completando 50 anos de existência, está em cena no teatro do SESC BOM RETIRO, tendo GUSTAVO WABNER muito bem vindo à sua primeira direção. A montagem homenageando Tônia Carrero foi idealizada por sua neta, a atriz  LUISA THIRÉ, a qual fala emocionada sobre o carinho pela sua avó:  “Em cada cena, cada palavra, cada texto, cada palco em que eu pisar, minha avó estará comigo, sempre”.

Luisa interpreta Neuza Suely, dividindo a cena com ALEX NADER, intérprete do Cafetão Vado e RANIERI GONZALEZ, o homossexual Veludo.  A atriz está perfeita na sua composição e interpretação politicamente correta, irretocável, aliás, o elenco está formidável.

                                                                                         Foto: Victor Hugo Cecatto

O espetáculo é uma navalha que corta até o fundo da alma, mostrando a realidade de uma vida marginal. Vários conflitos como a violência, a crueldade com o homossexual e contra a mulher de maneira forte, impactante, vivido de maneira muito real.
As ações se passam no barraco da prostituta, exibindo uma extrema pobreza, personagens sem escrúpulos, sem nenhuma moral e a tortura psicológica berrante, se mostrando presente até hoje na sociedade.

A violência transita entre dó e a piedade daquela pobre prostituta decadente que se sujeita a aceitar a “dupla vida”, escondendo a idade e sendo violentada a cada momento ao ser xingada da de velha, aliás, pagando um preço muito alto. O texto tem muitos palavrões, sem nenhum segredo, pois são todos cabíveis no cotexto e já não são soam berrantes como antigamente a ponto de ser censurados. Já se tornaram  culturais, embora ainda causam indignação de alguns puritanos na forma espontânea a qual são falados.

SERVIÇO: SESC BOM RETIRO – Alameda Nothmann, 185– Bom Retiro - Informações: 3332.3600 – Sexta e Sábado às 21h | Domingo às 18h.  Ingressos: R$ 30,00 - 291 lugares. Duração: 75 minutos. 16 anos. Até 30 de setembro.

quarta-feira, 19 de setembro de 2018



Pedro Cosmos

CASA DE BONECAS 2
O espetáculo estreou no SESC ANCHIETA e estende a temporada no Tucarena, com alguns ajustes em prol da concepção do espaço, prometendo ficar em cartaz até 2 de dezembro, com sessões às sextas-feiras, às 21h; aos sábados, às 20h; e aos domingos, às 18h. 
MARÍLIA GABRIELA, LUCIANO CHIROLLI, ELIANA GUTTMAN E CLARISSA KISTE compõe o elenco da peça CASA DE BONECAS 2, com excelentes interpretações.

                                                                                                              Foto: Miro

Com tradução de MARCOS DAUD, REGINA GALDINO dirige o texto criado pelo jovem dramaturgo norte-americano Lucas Hnath, sendo uma continuação da clássica peça do norueguês Henrik Ibsen, com narrativa abordando o retorno de Nora Helmer à casa de sua família, quinze anos depois de tê-la abandonado.  Agora escritora bem sucedida, a personagem volta para oficializar o divórcio.

Diálogos muito bem escritos e falados com muita classe transforma o espetáculo em um grande “Teatrão”. Bons conflitos é o que não faltam, visto que ela abandonara o lar, os filhos e o marido e não se mostra com nenhuma parcela de culpa, sendo recriminada inclusive pela empregada. A liberdade e a bandeira levantada ao feminismo imperam no texto fazendo com que cada um tenha a sua própria conclusão do “certo e errado” quanto aos ideais revolucionários sobre o amor livre e contra o casamento.



SERVIÇO:  TUCARENA – Rua Monte Alegre, 1024 – Perdizes, fone: 3670-8453 - Temporada: 14 de setembro a 2 de dezembro – sextas: 21h; Sábados: 20h; Domingo:18h. Ingressos: R$ 80,00. Duração: 100 minutos. Classificação etária: 14 anos

terça-feira, 11 de setembro de 2018


Pedro Cosmos
POUSADA REFÚGIO – A comédia dramática com texto de LEONARDO CORTEZ dispensa qualquer comentário sobre a sua carpintaria e grandiosidade. È muito intrigante com uma dramaturgia rica, com conflitos intrínsecos, pegada psicológica, diálogos muito bem construídos, com todas as possibilidades para um ator se debruçar e pirar na interpretação, ou seja, um presente.

Para o espectador é vivenciar um teatro com belíssimas interpretações que fazem refletir, sorrir, se odiar, além de se postar no lugar do outro.

A direção do experiente e talentoso PEDRO GRANATO é perfeita. Tudo transformado em ação, desenhos de cena que prendem a plateia, promovendo o melhor do teatro.


Em Pousada Refúgio, o Publicitário Zé Carlos (LEONARDO CORTEZ) e sua mulher Walkíria (GLAUCIA LIBERTINI), recebem para jantar o casal Professor Pardela (MAURÍCIO DE BARROS) e a Psicóloga Cleide (TATIANA THOMÉ) para brindarem a amizade de longa data e o desejo de construir uma pousada bem distante da cidade no meio da natureza. Entre um gole e outro, festejam a maquete da pousada refúgio e várias situações vão surgindo, revelando algo muito comprometedor fazendo com que o sonho do grupo se desmorone, tendo Ronaldo (DANIEL DOTTORI) como preparador da festa. O vínculo de amizade toma outro rumo quando se trata do dinheiro investido e o uso que foi feito com ele leva a um embate conflitante.

Os atores estão impagáveis em seus papéis, promovendo cenas hilariantes ressaltando em um teatro de altíssima qualidade, sendo meritórios de todos os prêmios. Ressalto aqui a grandiosidade do ator MAURÍCIO DE BARROS o qual se mostra um artista que oscila entre todos os gêneros do teatro promovendo cenas plausíveis. Explica-se porque em plena terça feira friorenta o teatro se encontra lotado.

Fotos: Ana Alexandrino


SERVIÇO: TEATRO VIVO - Av. Dr. Chucri Zaidan, 860 - Vila Cordeiro – fone: 97420-1520 - Terças-feiras: 20h; Ingressos: R$ 40; Duração: 1h20 minutos. Classificação: 14 anos.  274 lugares. Até 18/09/18.

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

LUZ DEL FUEGO

Pedro Cosmos

Depois da bem sucedida montagem de LILI CARABINA, o autor JULIO KADETTI, emplaca outro épico. Dessa vez, traz LUZ DEL FUEGO, com narrativa vinda em boa hora para dialogar com o atual momento político  e social brasileiro. 

Luz Del Fuego foi uma das vedetes mais conhecidas do teatro de revista dos anos 50, famosa por dançar enrolada com cobras, ser uma das precursoras do naturismo no Brasil contrariando toda a sociedade, envolveu-se politicamente batalhando pelos direitos das mulheres, ou seja, uma mulher aquém do tempo que enxergava a liberdade de expressão como fundamental na sua vida, extinguindo toda e qualquer forma de convenções. Era totalmente contrária a vida pacata que levava diante da família e se sentir sufocada diante da religiosidade não cabia para uma artista que pensava a liberdade em todos os seguimentos como fundamental. A ruptura foi súbita e ao ser internada como louca, deixou Belo Horizonte fugindo para o Rio de Janeiro, aonde alcançou o estrelato. De família influente, era perseguida inclusive pelos familiares, que envolta da política, a carreira dela poderia ser negativa a imagem do irmão senador. Também muito perseguida pela polícia, já que praticava atentado ao pudor e aos bons costumes. A artista enfrentava sem medo, mas acabou aceitando a chantagens do irmão para sumir de vez da vida dele. 
Apesar da popularidade de seus espetáculos, a artista sofreu dificuldades financeiras em seus últimos anos de vida. A artista foi assassinada, juntamente com o seu caseiro. Há boatos que tenha sido por dois pescadores na Ilha que ela batizara de Ilha do Sol. (19 de julho de 1967). Seu corpo foi lançado ao mar, e recuperado no mês seguinte.

Para viver a personagem título, a produção de LUZ DEL FUEGO generosamente apostou todas as fichas em uma personalidade que tem muito em comum com a homenageada. Caiu muito bem a escolha de RITA CADILLAC, pela ruptura de convenções sociais, não se prendendo a hipocrisias e enxergando nela uma cidadã politizada, corajosa e engajada na sociedade no que diz respeito às mulheres, revezando o papel com a atriz ELISA ROMERO que faz a personagem na fase jovem. Rita é grata pela confiança depositada, sabendo da responsabilidade que é pisar nos palcos como atriz.

Elisa Romero e Rita Cadillac - Foto: Marcelo Focoimage
ELISA ROMERO está livre, leve e solta no papel, apesar de ser a primeira peça profissional percebe-se muito preparo, carisma e excelente desempenho corporal, jogando muito bem em uma personagem que ressalta ousadia, além de exigir um preparo excepcional. A moça tem talento e muita contribuição dará ao teatro paulista.

ANA SAGUIA, escolha perfeita para viver a mãe de Luz dá um show de interpretação. Sua personagem está irretocável.

A direção ficou a cargo de MACIEL SILVA, tendo como assistente de direção GEORGINA CASTRO. Maciel acumula a função de ator interpretando a travesti Jojô, se mostrando um excelente comediante, sua personagem está muito bem construída e seus diálogos são ricos em ação dramática, parece ter sido escrito pensando nele, se encontrando desprovido de todos os pudores em um papel que é destaque, elevando a comédia no espetáculo. O artista joga muito bem com o experiente parceiro de cena ARNALDO D`AVILA,  o qual vive o Senador, que como nos contos de fadas é uma espécie de ajuda mágica para Luz, utilizando seu poder politico a salva da prisão, ordenando ao Delegado (VITOR WAGNER) que seja cauteloso e, além de libertá-la, a proteja.

O elenco conta ainda com ARNALDO GIANNA, CLEBER COLOMBO, que capricha na comicidade, LEONCIO MOURA, LETYCIA MARTINS E YURI MARTINS. O novelista Aguinaldo Silva surge em áudio. Parte do elenco e demais profissionais participaram de Lili Carabina o que deixa o núcleo bem familiar e com ares de Cia.

SERVICO - TEATRO JARAGUÁ – Rua Martins Fontes, 71, região central - fone: 3255-4380 – sábado 21h, Dom 21h. 90 min. Até 21/10. Ingresso: 60,00 a 80,00. 16 anos.

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

A VISITA DA VELHA SENHORA

Pedro Cosmos

O clássico do suíço FRIEDERICH DÜRREMATT, adaptado por Christiane Röhrig, Denise Fraga e Maristela Chelala continua em cena, agora no Teatro Sergio Cardoso, depois da bem sucedida temporada no SESI Paulista, e de ter sido apresentado em várias cidades.
A Comédia trágica conta com um grande elenco: DENISE FRAGA, TUCA ANDRADA, FÁBIO HERFORD, ROMIS FERREIRA, MARISTELA CHELALA, RENATO CALDAS, EDUARDO ESTRELA, BETO MATOS, LUIZ RAMALHO, DAVID TAIYU, FÁBIO NASSAR, FERNANDO NEVES E RAFAEL FAUSTINO para viverem a estória de Claire Zachanassian. 
Foto: Cacá Bernardes 
Diferente da montagem dirigida por Moacyr Góes, tendo a imortal TÔNIA CARRERO no estilo teatrão, o diretor LUIS VILAÇA optou por uma montagem popular, aproximando o público do teatro como se recebesse para uma grande festa, inserindo-os como integrantes do espetáculo. Para os espectadores é aceitável: “Ser recepcionado pelo elenco é muito prazeroso, rompe com a barreira do pedestal”. Os atores aguardam suas entradas no próprio palco e o faz de conta acontece sem segredos.
DENISE FRAGA vive a personagem principal. Como sempre, dá um banho de interpretação com sua personagem muito bem construída, esbanjando carisma, simpatia, uma ironia plausível, faz rir anunciando seus novos maridos, e seu humor transcende promovendo cenas eloquentes. Claire nasceu pobre, engravidou de Alfred na juventude, e, depois de pedir o reconhecimento da paternidade nos tribunais, é tratada como prostituta e expulsa da cidade. Volta com muita sede de vingança, quase 50 anos depois, milionária e oferecendo ajuda ao preço da morte do primeiro marido. Resta ao prefeito embarcar na proposta, já que a cidade de Guillen está falida, com fábricas quebradas e o desemprego aumentando.
Foto: Cacá Bernardes

Na cidade, Claire aparece sempre com muita ostentação e começa a dar ordens; tripudia o antigo namorado com recordações, contraria alguns interesses e se mostra a que veio. O clamor de indignação da proposta é rejeitado por alguns, mas os outros interesses instauram vários questionamentos, dinheiro, poder, ética e moral. “O mundo fez de mim uma puta, agora eu faço dele um puteiro”. Nesta fala, escancara seu ódio e a sede de vingança. Surge aí uma súbita referência à personagem “TIETA” bem perceptível, evidentemente Jorge amado foi buscar inspiração em Claire.
TUCA ANDRADA, interpretando Alfred, tem papel de destaque na pele do homem a ser vingado. De vida pacata, aspirante a ser o novo prefeito, possui um pequeno comércio onde os fregueses compram “fiad”, pedindo para colocar na conta. Diante da proposta da vingadora, ele não será indicado ao cargo porque a tentação de um bilhão doado à cidade livrará da falência. Dessa forma, o prefeito o aconselha a fugir de Güllen. Envolto da velha senhora, diante de suas dificuldades, não pede nada. Sente-se culpado por transformar a visitante naquilo. O pequeno comerciante é traído pela comunidade, que o lincha, deixando nítida a fragilidade dos valores, e sua morte é maquiada como se fosse um ataque cardíaco. Claire, já vingada, cumpre com o pagamento dando-se por vingada. Uma grande equipe, com elenco perfeito, valendo à pena prestigiar um teatro da mais alta qualidade.

SERVIÇO - TEATRO SÉRGIO CARDOSO – Rua Rui Barbosa, 153 – Bela Vista – 3288-0136 – Sexta às 21h. Sábados, às 17h e às 21h. Domingo 18h. Ingresso: Plateia Central R$ 60,00. Plateia Lateral R$ 50,00. Mezanino R$ 40,00.
Duração: 120 minutos - Classificação: 14 anos – Até 09/07/18.




quarta-feira, 8 de agosto de 2018

MEU FILHO VAI CASAR

Pedro Cosmos
(Divulgação)

O texto de ED JÚLIO, dirigido por ALEXANDRE REINECKE retrata de forma caricata a importância dada pela elite decadente aos sobrenomes de famílias tradicionais e a hipocrisia presente nesse meio social

A montagem tem estética surrealista, com referência a Salvador Dali e ao movimento artístico Pop Art de Andy Warhol e qualquer estranhamento não estranhem, porém foi muito bem pensado e evidentemente faz parte da proposta.

                                                                      Foto: Priscila Prade

Muitas situações patéticas são desenvolvidas e satirizadas por meio dos falidos Herculano (ANDERSON MÜLLER) e Adalgiza Barroso Pimenta Leão (SUZY RÊGO).  O casal tem uma relação insustentável vivendo em total desrespeito, mantendo ali nda mais do que aparências. Diante da falência, veem no casamento do filho Norberto (DANIEL TAVARES) com Serena Urime Constantino Aribello Colonna Mannucci (RITA BATATA) um trampolim para uma vida melhor, pois a riqueza da menina com cinco sobrenomes trará alguns benefícios. Eles organizam um jantar preparado pela empregada (MARTHA MEOLA) especialmente para receber os pais da moça Loretta (CLARA CARVALHO) e  Eliseu (BLOTA FILHO) o qual promove uma série de absurdos, chegando a ser revelados todos os segredos.

SERVIÇO – TEATRO MASP AUDITÓRIO - Avenida Paulista, 1578, Cerqueira César - Tel.: 3251-5644. Sexta e sábado: 21h. Domingo: 20h. Ingresso: Sexta: 30,00. Sábado e Domingo: 50,00 A 60,00. Duração: 90 min. Classificação 12 anos. Até 07/10/18.

terça-feira, 7 de agosto de 2018

É Tudo Família

Pedro Cosmos

É Tudo Família! – espetáculo inédito com direção muito acertada de KIKO MARQUES em cartaz no Teatro Alfa é livremente inspirado no premiado livro É Tudo Família, da autora alemã Alexandra Maxeiner (publicado pela KlettKinderbuch, Leipzig/Alemanha), veio em bom momento para os palcos paulistas e a contrapartida social presente é muito relevante.

Os atores MARCELO PERONI e ALINE VOLPI, também idealizadores do espetáculo encenam uma temática necessária na atual contemporaneidade que é a compreensão do que vem ser o significado de uma família.

A encenação foi muito pensada. Idealizaram uma sala de aula em dia de preparação para o seminário e várias propostas de discussão são abordadas como muita classe, respeito e ética, recorrendo a dicionários, livros, Constituição Federal, objetivando-nos compreender e refletir, sem, contudo, impor uma resposta fechada.

 Várias perguntas são lançadas pelos atores ALINE VOLPI, ANA PAULA CASTRO, MARCELO PERONI E VLADIMIR CAMARGO, para que juntos solucionem uma forma plausível de apresentação, diante da compreensão do professor exigente, visto que os alunos desejam ter uma boa nota no seminário.

 “O que é família”? É possível escolhê-la? Laços que se formam a partir de relações não catalogadas ou comumente aceitas podem levar esse nome? Se não, qual nome dar aos cada vez mais diversos tipos de união que existem? Seriam uma espécie de “genérico” de família? Receberiam o nome do seu princípio ativo, nesse caso, “Amor”? Por meio desses, somando a outros questionamentos, as ações são desenvolvidas com muita interação e participação da plateia.

Para responder com ritmo e de forma objetiva, vêm à tona vários tipos de família: afinidades, irmão (ã), meio-irmão (ã), meio-pai (mãe), meio-meio-pai (mãe), os laços sanguíneos, avós, grupo de pessoas que moram na mesma casa, ou um grupo em que há pai-mãe-filhos, possibilitando o entendimento de tudo o que possa se inserir na formação de uma família, sem deixar de fora até mesmo os animais. Tudo bem planejado com diálogos criativos, linguagem direta, resultando em uma rica proposta a qual muito enriquece diante da contemporaneidade.




Os atores não deixam a peteca cair, tem um ritmo perfeito e jogam muito bem. As ações são ilustradas prendendo muito a atenção dos espectadores exigentes, a música e a poesia na medida certa. Em conversa com os futuros espectadores, elegeram a poesia, sendo um dos pontos fortes do espetáculo, pela fruição, a sensibilidade e a ludicidade promovidas.

Em fim é um espetáculo para ser visto pelas “FAMILIAS”, E que cada um faça o julgamento ou interprete a verdadeira essência da constituição do realmente é uma família.

SERVIÇO - TEATRO ALFA - Rua Bento Branco de Andrade Filho, 722, tel. (11) 5693-4000. De 4/08 a 23/09/18. Sábados e domingos, às 16h. 204 lugares. Duração: 60 minutos. Classificação: Livre. Ingressos: R$ 40,00.

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

O JULGAMENTO DE SÓCRATES

Pedro Cosmos

O ator TONICO PEREIRA comemora seus 50 anos de carreira, interpretando o filósofo Sócrates, em seu monólogo cômico filosófico, com adaptação assinada por IVAN FERNANDES. Tonico faz uma breve incursão sobre a sua carreira, nos contextualizando com o que está por vir, visto que no campo da filosofia explicações é um item bem vindo.

A partir da obra ‘Apologia de Sócrates’, do filósofo e matemático Platão, o autor teve livre inspiração objetivando a dramatização da defesa de Sócrates, a qual é posta em jogo, e o espectador vivencia o julgamento que o condenou à morte por envenenamento.

Foto divulgação: Igor Mota
         Sócrates foi um dos principais filósofos e o seu conhecimento é socializado em todos os campos. A capacidade de explicar as coisas, a compreensão da ética e da moral e a condução do ser humano e sua transformação social sempre remete a sua contrapartida.
No espetáculo estão presentes alguns ideais do pensador nos contextualizando como cidadãos críticos no que diz respeito ao bem e o mal com muitas intervenções do ator, interagindo sempre com a plateia, pagando um alto preço pelos ideais diferentes, pela liberdade de expressão, chegando à condenação.
 “Para Tonico, o espetáculo é um “antiteatro”, ou seja, não é um espetáculo cheio de glamour, e sim uma troca de ideias com figurino, cenário e trilhas simples”. É essencialmente artesanal, sem muitos recursos. Mas isso “é a essência do teatro”.

  
SERVIÇO – TEATRO NAIR BELLO – Rua Frei Caneca, 569, Tel.: 3472-2414 - Sábados às 21h e Domingos às 19h. Ingressos: R$ 60,00. Classificação: 12 anos
Duração: 50 minutos. Capacidade: 200 Lugares. Duração: 50 min. De 21/07/ Até 09/09/2018.

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Nós

Pedro Cosmos

NOS - Os sentimentos entre dois meninos estão à prova no espetáculo da Merac companhia, assim como, o desejo de serem livres para amar, as barreiras impostas pela sociedade, a admiração pelo mar, o qual esperta muita poesia, fazendo nos pensar nas diversas formas de amar e as interferências que causam as convicções religiosas e a educação que influencia em muitas escolhas. O grupo está de parabéns por tudo o que proporcionaram durante aproximadamente 50 minutos de intervenção poética.


Foto: divulgação
          Com direção muito delicada e certeira, CLÉO MORAES E JULIANA LUCILHA fazem o texto de ELMO FÉRRER aparecer, propiciando bons momentos para os dois atores EDUARDO OSÓRIO e DICO PAZ, tendo como ponto forte, uma entrega perfeita do casal de atores que se permitem adentrar em um universo poético, desprovido de pudores e tudo feito elegantemente, tendo a música como coadjuvante e para desatar os “nós” os detalhes são muito bem cuidados.

Quanto ao enredo não apresenta novidades, já que se trata do campo das emoções tão presentes nas relações humanas e o fato de ser do lado oposto deixa mais evidente as rupturas contemporâneas. Basta conhecer um pouco o universo de Oscar Wilde, as entrelinhas da música “vento no litoral” que inspirou o texto de Regiana Antonini, “Aonde está você agora” para melhor contextualização, porém o ponto forte é a entrega dos atores com muita cumplicidade e a sensibilidade com que todas as ações são conduzidas, deixando o espetáculo grandioso.
A companhia está de parabéns pelos trabalhos apresentados com muita garra, uma pesquisa muito apurada, cuidando de cada detalhe com muita classe, a qual merece um olhar diferenciado das políticas públicas, pela seriedade dos seus trabalhos e competência.
SERVIÇO – TEATRO PARLAPATÕES – Pça Roosevelt, 158, Consolação, Tel.: 3258-4449 Quartas as 21h. 45min. Classificação: 14 anos. Ingressos: R$ 40,00.  De 01 a 29 de agosto.

segunda-feira, 30 de julho de 2018

ELES NÃO USAM BLACK TIE

Pedro Cosmos


O teatro brasileiro deve muito a GIANFRANCESCO GUARNIERI  pela contribuição e toda a sua contrapartida social. Autor de Arena Conta Zumbi, Arena Conta Tiradentes, Castro Alves Pede Passagem, Um Grito Parado no Ar, Gimba, A semente, Luta Secreta de Maria da Encarnação, dentre outros relevantes textos, os quais tocam profundamente pelos fortes diálogos, a sensibilidade, a construção de um olhar cidadão como um todo, em fim, por nos levar a refletir, debater e pela investigação apresentada.
ELES NÃO USAM BLACK TIE”, escrito em 1958, tem todas essas ferramentas. Texto que consagrou a carreira de Guarnieri como dramaturgo, sua construção é perfeito, tem tudo o que indica uma correta dramaturgia, ou seja, bons conflitos e ideia central. O texto revela o encorajamento dos trabalhadores e a força que estes têm. Inserido em questões políticas, contendo conflitos gerados a partir das relações familiares: gravidez, casamento, educação e religião, a moral, os valores, o trabalho, companheirismo e ainda uma história de amor, sem pieguices. Todas essas ferramentas corroboram para que tudo permaneça muito atual, instigando curiosidade a cada nova montagem. Em resumo, é um texto muito rico em todos os sentidos, postado em um dos mais importantes da dramaturgia nacional.

Dan Rosseto, adaptador e diretor da nova montagem em cartaz no Teatro Aliança Francesa, imprimiu seu toque pessoal, deixando tudo com muito bom gosto, resultando em um espetáculo irretocável, unindo a comédia ao drama sem perder a classe, respeitando a proposta original. O tom cômico promovido deixou o espetáculo leve, principalmente quando a comédia é centrada na personagem mais humanizada, a dona de casa e mãe de família “Romana” interpretada brilhantemente pela atriz TECA PEREIRA. Seu texto falado no momento certo, com muita naturalidade e pausas precisas são plausíveis. O casal vivido por KIKO PISSOLATO (Tião) E PALOMA BERNARDI (Maria), dá conta do recado. Paloma é surpreendente e muito bem vinda nova linguagem. Em fim todo o elenco: ADILSON AZEVEDO (Otávio), CAMILA BRANDÃO (Terezinha), CAROLINA STOFELLA (Dalva), PABLO DIEGO GARCIA (João), PAULO GABRIEL (Jesuíno), SAMUEL CARRASCO (Chiquinho) e TIAGO REAL (Braúlio), se encontra impecável em um jogo o qual o ganhador é o espectador.
  
FotoNatalia Angelieri
Tudo começa com a organização de uma greve objetivando melhores condições de trabalho, sendo perceptível o envolvimento de todos, com exceção de Tião, que por motivos particulares e egoísmo, acaba furando a greve, pagando um alto preço. Sua traição é imperdoável, gerando muitos dissabores, dentre eles a solidão e o abandono de todos. A Mãe é uma personagem fundamental na história, embora tenha sido massacrada pela vida, sua sapiência seduz a todos.

FotoNatalia Angelieri
É uma produção muito bem cuidada (FABIO CAMARA) e vale a pena ser conferida, pela garra dos atores e toda equipe envolvida, pela valorização da dramaturgia nacional e por ser teatro de qualidade, feito com qualidade. VIVA GUARNIERI.

SERVIÇO – Teatro Aliança Francesa – Rua General Jardim, 182, Vila Buarque – Fone: 3572-2379. Sexta e Sábado 20h30 e Domingo 19h – Ingressos: 60,00. De 20/07 até 16/09/2018. Duração. 90 min. Classificação: 12 anos


quinta-feira, 5 de julho de 2018

JUSTA

Pedro Cosmos

O texto do dramaturgo NEWTON MORENO marca os 20 anos de trajetória da Odeon Companhia Teatral. Depois de temporada no Rio, é a vez de São Paulo ser contemplada com a reestreia no SESC 24 de março. No elenco, dois grandiosos artistas premiados YARA DE NOVAES e RODOLFO VAZ, sob a batuta do diretor CARLOS GRADIM, que usou recursos tecnológicos deixando o espetáculo muito contemporâneo inserido na linguagem híbrida.
A narrativa é permeada por assuntos polêmicos situando a prostituição, política e ética. Um investigador trabalha com crimes contra políticos corruptos brasileiros e tenta encontrar algum cidadão ético e incorruptível. Nesse caminho, ele colhe o depoimento de várias prostitutas, todas interpretadas por Yara de Novaes, que são alegorias para o povo brasileiro. Uma delas é Justa, uma mulher ética no trabalho, na vida e no relacionamento com os clientes.
Foto: Elisa Mendes
A realidade do Brasil vem através dos discursos da vida dessas mulheres, do que as levou até ali, das injustiças e desigualdades sociais que sofrem. Em alguma delas, há uma defesa da prostituição como uma escolha do feminino, uma atitude política consciente.
A partir da investigação de crimes contra políticos corruptos brasileiros, um oficial justiceiro encontra um amor improvável e se depara com a recorrente pergunta de nosso imaginário como nação: haverá alguém não corruptível neste país? O espetáculo é uma alegoria cênica para o esgotamento ético em que o Brasil está mergulhado e para a urgência de um reencantamento do povo com a beleza da justiça.

SERVIÇO - SESC 24 DE MAIO - Rua 24 de Maio, 109, República, tel.: 3350-6300,  quinta a sábado, às 21h, domingos e feriados, às 18h. Ingressos: R$40,00. (Trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo matriculado no SESC) R$12,00.  Classificação: 18 anos. Duração: 90 minutos. De 28 de junho até 22 de julho.

NEM PRINCESAS NEM ESCRAVAS

Pedro Cosmos

No estilo Cabaret alemão, fortalecido com a essência do popular, as atrizes ANGELA DIPPE, CHRISTIANE TRICERRI e RACHEL RIPANI, despidas de todos os pudores e muito bem preparadas para interagir a todo o momento, levam os espectadores a darem altas risadas em texto inédito escrito pelo mexicano HUMBERTO ROBLES, tradução e direção geral de CACÁ ROSSET, comemorando 40 anos de existência do TEATRO DO ORNITORRINCO.

Uma dona de casa (ANGELA DIPPE), uma servidora sexual (CHRISTIANE TRICERRI) e uma intelectual (RACHEL RIPANI) veem a sua vida ter uma reviravolta, e com muita irreverência, abordam as vantagens e desvantagens de não serem princesas, e muito menos escravas. Os dissabores e conflitos femininos vão sendo apresentados em monólogos, cada personagem com sua história, as quais se cruzam por meio da interação musical, promovendo momentos hilários, ressaltando muito humor.

Foto: Gal Oppido
A montagem foi contemplada pela 6ª Edição do Prêmio Zé Renato de Teatro para a Cidade de São Paulo, sendo uma excelente escolha para os palcos paulistas, devido ao histórico do grupo “Teatro do Ornitorrinco” e seus criadores. Suas propostas sempre irreverentes têm mostrado outras possibilidades de enxergar o teatro, saindo do lugar comum e devido ao caráter instigante e revolucionário de suas peças, que mesclam música ao vivo, circo e representações, desperta curiosidade de muitos espectadores prestigiarem cada montagem, sendo um grande formador de plateia, fazendo jus aos inúmeros prêmios recebidos por seus trabalhos.

Foram montagens do Teatro do Ornitorrinco: “Mahagonny Songspiel”, “Ubu, Folias Physicas, Pataphisicas e Musicaes, “Teledeum, “O Doente Imaginário”, “Sonho de Uma Noite de Verão”,“A Comédia dos Erros”, “A Megera Domada”, “O Avarento”, dentre outros, tendo passado pelo grupo grandes nomes do fazer teatral:  Rosi Campos, José Rubens Chasseraux, Chiquinho Brandão, Ary França, Luciano Chirolli, Eduardo Silva, Eduardo Pompeo, Gerson de Abreu, Ricardo Blat, Roney Facchini.

É uma curta temporada e dá boas gargalhadas faz bem para a alma e para o coração. Corra que é imperdível!

SERVIÇO – TEATRO SERGIO CARDOSO – Rua Rui Barbosa, 153 – Bela Vista3288-0136 - Sábados, às 19h30min, domingo 16h e segunda às 20h. Ingresso: R$ 30,00. Duração:  80 minutos - Classificação: 14 anos – Até 09/07/18.



O ANDARILHO

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