Pedro Cosmos
FRIDA KAHLO – VIVA LA VIDA
No Dia dos Mortos, Frida Kahlo
cozinha à espera de seus convidados, mortos e vivos, em sua festa. Evocando
Diego Rivera, Trotsky, Breton, Rockefeller, passando por Paris, Nova York e o
acidente que sofreu. Frida nos leva a uma montanha russa de emoções. O
humor, o riso, a tequila, sua paixão pela pintura, por seus companheiros e
fundamentalmente seu prazer e alegria de viver são uma constante ao longo da
peça.
Uma mulher icônica, aquém do seu tempo, a
artista mexicana, virou um símbolo
das causas libertárias, que serviu de inspiração para outras mulheres, vivendo
sua paixão pela pintura e também pelo companheiro
também pintor, Diego Rivera, que
entre traições e muitas loucuras, o amor acabava sobressaindo sempre e a
maneira de mostrar que a liberdade era essencial inspirou muitas mulheres a
terem outro olhar sobre si mesmas. Frida Kahlo, aqui apresentada, é
representada esplendorosamente.
Espetáculo inédito no formato monólogo
protagonizado por CHRISTIANE TRICERRI, agrada potencialmente em todos os
quesitos. Caracterização impecável e entrega perfeita à personagem, voz e nos
trejeitos, a ambientação, os improvisos, contextualizando, ou seja, inserindo a
plateia como parte dos personagens do enredo, como muita segurança e verdade na
sua interpretação, ou seja, impecável.
Foto: Gal Opido
Escrever monólogo não é tarefa fácil, o
ator está sozinho sem amuleto ou válvula de escape que dê suporte, porém, o texto do dramaturgo mexicano HUMBERTO ROBLES, Escrito em 1998, extrapola essa cobrança. A quarta parede é
rompida e o que se vê é um diálogo ímpar com a plateia, permitindo inclusive
que essa faça intervenção. No estilo, brechtiano,
característica presente no Teatro do Ornitorrinco, a atriz ressalta: “O público faz as vezes dos convidados que
vão à casa da Frida para celebrar a vida na festa do Dia dos Mortos”.
A atriz consegue empatia com a plateia
e diante de goles generosos de tequila, contempla o público com seu carisma, trazendo
para a cena uma Frida, acelerada, frenética, contemporânea, vivendo o momento
como se ali naquele ambiente tivesse seus
amigos, amantes, como Leon Trotsky, com espaço ainda para falar dos fatos que
marcaram sua vida como o acidente do bonde, a fragilidade na saúde, sem perder
sua autoestima.
Foto: Gal Opido
A direção de CACÁ ROSSET (Teatro do Ornitorrinco), é irretocável. Conhecedor mor
da atriz, da parceria de vida e de muitos trabalhos acumulados, com maestria e competência
no seu olhar certeiro deixa o espetáculo em festa. Quanto ao espetáculo ele
revela: “A montagem representa a
continuidade de uma metodologia de trabalho e de uma linha estética pautada na
ideia de que um espetáculo de teatro tem que ser antes de qualquer coisa e,
acima de tudo, vivo e em sintonia com seu tempo”.
Vale a pena batalhar pela aquisição do ingresso que está se
esgotando, prestigiar esse trabalho majestoso e obviamente, tirar suas
conclusões.
Foto: Gal Opido
SERVIÇO - TEATRO SESC PINHEIROS
– Rua Paes Leme, 195, Pinheiros – Tel.: 3095-9400 – Ingresso: 30,00. Quarta a
sábado, às 20h30. De 18 a 25 de junho. Classificação: 14 anos. Duração: 60
minutos. De 21/11 a 14/12/19.