quinta-feira, 19 de outubro de 2017

SE EXISTE EU AINDA NÃO ENCONTREI

por Pedro Cosmos

DANIEL ALVIM dirige a montagem do texto de Nick Payne, jovem autor britânico conhecido nos palcos paulistanos por “CONSTELLATIONS”, a tradução é de Fred Kling. Alvim foi muito criativo em sua direção, as mudanças de cenários são muito bem realizadas, fazendo desenhos perfeitos com entradas e saídas rigorosamente coreografadas para as várias ambientações. 
Foto: Divulgação
Os atores HELENA RANALDI, LEOPOLDO PACHECO, LUCIANO GATTI E LYV ZIESE, todos muitos experientes, estão perfeitos em suas composições, ressaltando grandes momentos de LUCIANO GATTI.
O texto é muito reflexivo. Pensar em salvar a humanidade e ignorar os problemas em casa é algo a ser pensado. As pessoas precisam serem ouvidas, acolhidas em suas especificidades. O adolescente é um ser em desenvolvimento com seu metabolismo transbordando e evaporando por todos os poros e o que o cerca não pode ser negligenciado. É o que acontece com a personagem adolescente, que está acima do peso, e por isso, sofre com o bullyng promovido pelos colegas de classe. Como se não bastasse, muitas vezes é ignorada pelos pais. Lembrou-me “ANALFABETO POLÍTICO” de Bertolt Brecht. Dessa forma, não há outro caminho a não ser decepcionar-se e entregar-se ao abismo.
Assim tem-se o enredo do espetáculo envolto das relações familiares como fio condutor. A falta de comunicação entre a família, ou seja, cada um dentro do seu mundo e o bullyng escancarado se fazem presentes, amenizando enfim por doses de amor e cumplicidade, resultando em um espetáculo que traduz os tempos atuais. O fato de a mãe ser a professora da filha e a crítica ao seu estado físico causa muita repulsa. Um desgaste entre o casal o leva cada um para o seu lado, mas o amor não acaba subitamente.
A dramaturgia brasileira tem ficado em segundo plano nas atuais montagens teatrais. As produções estão buscando outros olhares, possibilitando-nos outros conhecimentos, e para nossa sorte, os textos montados ultimamente “tipo importação”, com raras exceções, são de muita qualidade. A dramaturgia inglesa tem se mostrado muito interessante e politicamente correta na sua construção e em seus diálogos, especificamente em SE EXISTE EU AINDA NÃO ENCONTREI a dramaturgia é fragmentada, mas rica em ações dramáticas e apesar das quebras  apresenta uma linguagem bem fluente.

SERVIÇO – TEATRO EVA HERZ – Av. Paulista, 2073, Cerqueira César – 3170-4059. – Sábado – 21h, Domingo – 19h – Estreou em 10/06/17. Ingressos: 50,00. 16 anos. 90 minutos de duração.

COLEGAS NO TEATRO

por Pedro Cosmos

Depois de estrear no cinema, o filme de Marcelo Galvão, vencedor de vários prêmios “COLEGAS” agora estreia no teatro com direção e adaptação de Leonardo Cortez, a montagem é estrelada por jovens portadores de Síndrome de Down.
No cinema, os atores contaram com recursos que maquiaram muitas ações, ou seja, cortes, efeitos, edições de imagens, sendo tecnologias facilitadoras para que o filme tivesse êxito. No teatro, o foco é o ator, a linguagem é outra e sem mágica nenhuma, os jovens GIULIA MERIGO, IAN PEREIRA e JOÃO SIMÕES, contando com um time de atores consagrados RICARDO CÔRTE REAL, ADRIANA MENDONÇA E DANIEL DOTTORI, deram conta do recado, promovendo momentos de superação, quebra de paradigmas, resultando em muita emoção, risos e inquietações da plateia, a qual torce pelas aventuras do elenco. Pois é perceptível a emoção que eles transmitem curtindo o que estão fazendo. 
Giulia Merigo, Ian Pereira eJoão Simões - Foto: Divulgação
Aparentemente tudo indica que vai ser um espetáculo piegas, didático e, no entanto,  revela-se uma comédia para rir muito. Por meio da peça passa-se a discutir sobre as ideias de normalidade e diferença, fazendo-nos pensar muito sobre os limites, o medo inexistente por parte deles de enfrentar o desconhecido e dessa forma, eles se mostram felizes, deixando a vida acontecer.
No enredo, três amigos são pirados pelo cinema, citam frases de filmes e se intitulam como as personagens que admiram assumindo suas personalidades, se espelham em seus astros e trilham em busca de seus maiores sonhos, metendo-se em uma série de confusões. Eles estão viajando depois de ter fugindo do instituto onde moravam, os policiais seguem o rastro deles, sendo tidos como incompetentes por não capturá-los e assim  gerando dissabores para o instituto e os familiares.
Momentos poéticos deixam o espetáculo com mais ludicidade e beleza, as músicas e danças contribuem com cenas hilárias, muitas vezes aplaudidas.
Os atores se reversam em vários personagens e cada situação é muito bem executada, percebe-se os cuidados que toda a equipe tem pelos jovens atores para que tudo aconteça de forma profissional.
O cenário e o figurino de Chico Spinosa são criativos e muito funcionais. Um ótimo espetáculo com uma grande e excelente equipe. Idealização de Thiago Rosa, iluminação de Marcelo Lazzaratto, fotos de João Caldas, dentre outros profissionais.

SERVIÇO –TEATRO DO MASP – Avenida Paulista, 1578, Cerqueira César - Consolação – Tel.: 3938-06979 9642-8350 – Sexta e sábado – 21h – domingo – 20h. Ingressos: 50,00. Estreou em 13/10/17.

FOREVER YOUNG REESTREIA EM TEMPORADA POPULAR

por Pedro Cosmos

Imagem: Divulgação
Depois de estrear no Teatro Raul Cortez, em 19/08/16, passar pelos Teatros NET e Nair Bello, a comédia musical do autor suíço Eric Gedeon reestreia em Temporada Popular no Teatro Arthur Azevedo na Mooca, fazendo-se necessária ser prestigiada por todos os amantes de teatro e merecedora de todos os prêmios a que vem sendo indicada, daí o porquê de tanto sucesso.
 A montagem vale apena ser vista por tudo o que nos propõe em termos de comicidade, interatividade, ludicidade e talento dos seis atores, Nany People, Saulo Vasconcelos, Fred Silveira, Paula Capovilla, Marcos Lanza, Naima, vivendo a si mesmos no futuro, quase centenários, com uma perfeita caracterização, possibilitando-nos entender como seremos futuramente, no quesito humor, mau humor e estado físico. Por isso sente-se e relaxe porque lá vem comédia. O elenco faz a plateia ir ao delírio com risos desenfreados. Tudo se passa em um teatro transformado em retiro, todos com suas histórias de vida, alguns achando que o tempo não passou para ele, sendo supervisionados por uma enfermeira, impondo-lhes limites, mas na sua ausência esses velhinhos aproveitam para mostrarem seus talentos, cantando, dançando, envolvendo a todos com lindas canções, ou seja, grandes hits da música pop e rock`n`roll, (I love Rock’n’Roll, Drive my car, Satisfaction, Music, California Dreamin, Angie, Imagine, e a música título Forever Young, entre outras) tocadas ao piano por Miguel Briamonte, morador daquele retiro, profissional que também assina a direção musical, não necessitando de tradução das músicas, pois além de muito conhecidas entre nós, nos contextualizam com as cenas propostas. Tudo nos leva a um faz de conta, fazendo-nos sonhar que seremos eternamente jovens, resultando em uma das mais célebres montagens cômicas dos últimos anos, onde criatividade é um item que não tem lugar para a crise.
Foto: Divulgação
O elenco que já sofreu várias mudanças desde sua estreia, certamente não comprometeu a estrutura da peça, visto que o esqueleto já está montado. A começar por Jarbas Homem de Mello que assina a direção, irretocável, porém deixou o elenco no qual acumulava dupla função, ocupada agora pelo brilhante Fred Silveira. O espetáculo já contou com Cláudia Ohana, Vanessa Gerbelli, Cláudio Galvan, Carmo Dalla Vecchia e Marcos Tumura, que nos deixou recentemente. PAULA CAPOVILA (no papel da roqueira) e MARCOS LANZA (Hippie) tem atuações memoráveis. A produção está a serviço de Henrique Benjamim, também adaptador da obra.
SERVIÇO – Teatro Arthur Azevedo
Avenida Paes de Barros, 955 (Mooca)
Telefone: 2605-8007
Horário da Bilheteria: apenas no dia da apresentação, abre com 1h de antecedência do espetáculo.
Reestreia dia 3 de Novembro (sexta); até 26 de Novembro;
Sexta e Sábado, às 21h; Domingo, às 19h.
Ingressos: R$ 30,00 - inteira

SENHOR DAS MOSCAS UM ESPETÁCULO OBRIGATÓRIO PARA OS JOVENS


por Pedro Cosmos
O Teatro do SESI – SP- apresenta uma produção teatral inserida no gênero dramático musical carregado de muita simbologia. O experiente e bem sucedido diretor Zé Henrique de Paula apresenta montagem inédita em encenação irretocável, com uma equipe preciosa, da música, a iluminação e o cenário muito funcional, enriquecendo o teatro com um texto de William Golding, adaptado por Nigel Williams, em uma linda encenação.
Quem somos nós? Até que ponto o poder pode adentrar as nossas vidas, fazendo tantas transformações nem sempre adequadas do ponto de vista ético e moral? O poder corrompe e a célebre frase: quer saber quem sou me dê poder, funciona. Um espetáculo de jovem para jovem, aliás, de jovens para todos. Muito forte, porém necessário.

Foto: divulgação
Para dar vida aos personagens, o diretor Zé Henrique de Paula, contou com um elenco de atores jovens, bonitos e talentosos: ARTHUR BERGES, BRUNO FAGUNDES, DAVI TÁPIAS, FELIPE HINTZE, FELIPE RAMOS, GABRIEL NEUMANN, GUILHERME LOBO, LUCAS ROMANO, PAULO OCANHA JUNIOR, PIER MARCHI, RODRIGO CAETANO, RODRIGO VELLOZO e THALLES CABRAL, explorando o canto, a dança e muita exploração corporal.

O espetáculo revela um pouco sobre nós colocando-nos para a alteridade, fazendo-nos questionar e nos postar na posição do outro, através da simbologia apresentada podemos tirar nossas próprias interpretações. Embora a narrativa esteja inserida na Inglaterra, os conflitos estão muito atuais entre nós.

A dramaturgia é muito bem construída, sem estereótipos e didatismo trazendo para a cena uma grande contrapartida social para com os jovens pelas temáticas abordadas, cabendo muitas reflexões e várias possibilidades de intervenções com estes, há muitas ações conflitantes cabíveis de questionamentos para serem explorados entre os jovens como a busca pelo poder e o desrespeito. Sendo de vital importância ao conhecimento dos jovens ou estudantes em geral, tanto pelo contexto sociológico como pelo filosófico, despertando muitas sensações.

No enredo, doze crianças inglesas de um colégio interno ficam presas em uma ilha deserta, sem nenhum adulto por perto, após a queda de um avião que os transportava para longe da guerra. Essas crianças perdidas se dividem em grupos já se situando o “bem e o mal”. Disputam uma concha para dar-lhe o poder da fala, se instalando ali uma disputa entre eles.

A busca pelo poder e para se manter com ele, leva-os a uma tortura psicológica, em um jogo de salve-se quem puder. O bullyng praticado com o personagem Porquinho, muito bem interpretado pelo jovem ator FELIPE HINTZE, é explícito. A figura do porco já ilustra a simbologia trazendo á tona a tortura psicológica. O poder entra em jogo, o deboche, o preconceito e a rivalidade entre os dois grupos, sem nenhum escrúpulo nas ações.

Por fim, parte das crianças escolhem um símbolo sobrenatural: uma cabeça de porco espetada numa estaca, que eles batizaram como Senhor das Moscas e para quem pedem proteção contra os perigos da ilha.

As interpretações de THALLES CABRAL como Simon, BRUNO FAGUNDES, como Ralf e GHILHERME LOBO como Jack são de se tirar o chapéu. Fazem jus as indicações ao prêmio São Paulo de Incentivo ao Teatro para Infância e Juventude. Parabéns para o Teatro do SESI, por promover mais um espetáculo de altíssima qualidade, entre tantos, contribuindo cada vez mais com a atividade cultural e a promoção de formação de público.

SERVIÇO:
TEATRO DO SESI – SP - Av. paulista, 1313, fone: 3146—7405 – sábado e Domingo às 14:h30. Entrada Franca. Censura 14 anos. De 04/05/ a 03 de dezembro de 2017. Reservas antecipadas online pelo site
www.centroculturalfiesp.com.br. Ingressos remanescentes são distribuídos nos dias do espetáculo, a partir do horário de abertura da bilheteria (quinta a sábado, das 13h às 20h30, e no domingo, das 11h às 19h30).
Agendamentos: ccfagendamentos@sesisp.org.br ou (11) 3146-7439.



terça-feira, 15 de agosto de 2017

REALISMO E HUMOR DÃO O TOM DE LILI CARABINA

    Por Pedro Cosmos

    Uma frase repetida por Lili Carabina pontua o que se deve esperar: “A pessoa nasce para aquilo que ela é!”. Nesse ínterim, a dona de casa da baixada fluminense, Elisa interpretada por VIVIANE ARAÚJO renega o seu nome, passando a chamar-se Lili Carabina. Com muita sede de justiça, toma gosto pelo crime, junta-se a um bando de assaltantes para vingar a morte do marido. Em uma cena impactante ela tortura e mata o personagem Arnaldo, suposto assassino do seu marido, interpretado com muita garra pelo talentoso ator ARNALDO D'ÁVILA.
    Sempre munida com uma escopeta calibre 12, disfarçada com uma peruca loira e roupas sensuais, se torna a líder de uma quadrilha que aterroriza o Rio de Janeiro, dessa forma mergulha no mundo do crime, comete assaltos e assassinatos sendo perseguida pelo delegado de polícia Renato, papel vivido por MATEUS CARRIERI, o ator usa um recurso na voz, uma espécie de falsete rouco, deixando a sua interpretação muito interessante.
    Cleber Colombo, Mateus Carrieri, Viviane Araújo, Alex Gruli e Higor Vasconcelos
    Foto: Nina Vetta
    A bandida justiceira, ao tentar livrar da prisão o seu amante Cigano, paga propina aos carcereiros e não teme as possíveis emboscadas, já que faz parte do jogo: viver ou morrer.
    Toda a tensão do drama é aliviada com doses de humor, principalmente nas cenas em que estão os atores Maciel Silva e Cleber Colombo, que arrancam boas gargalhadas da plateia.
    E assim, ganha vida o texto de Aguinaldo Silva, um dos mais importantes novelistas (Roque Santeiro, Vale Tudo, Tieta, Senhora do Destino), presenteando-nos também com sua contribuição à dramaturgia e sua volta ao teatro resulta em uma super montagem teatral, de seu livro "Lili Carabina, Retrato de uma Obsessão" escrito em 1970, transformado em filme em 1988, estrelado por BETTY FARIA, agora foi adaptado para o teatro por JÚLIO KADETTI.
    Arnaldo D'Ávila e Viviane Araújo (Foto divulgação)
    Com exceção a personagem título interpretada por VIVIANE ARAÚJO, bastante conhecida do grande público, o dramaturgo mostra muita generosidade na escalação do elenco, dando oportunidade para os atores paulistas mostrarem os seus talentos, pois dispensou estrelas da TV para os demais papéis, já que conseguiria quem ele quisesse, dada a sua importância e penetração no meio televisivo. No palco, vê-se muita diversidade nos tipos, fazendo jus a uma escolha certeira, alguns já consagrados no teatro e outros jovens atores em início de carreira, são eles: Alex Gruli, Cleber Colombo, Higor Vasconcellos, Maciel Silva, Mateus Carrieri, Arnaldo D’Ávila, Yuri Martins, Fernando Neves e Leoncio Moura. VIVIANE ARAÚJO veio somar-se muito bem aos seus parceiros de cena, ela tem todos os atributos que a personagem exige, ou seja, garra, atitude, beleza, ousadia e sensualidade, com uma entrega perfeita no desempenho dessa bandida guerreira.
    A adaptação do texto é corretíssima na concepção aristotélica. O tom de jornalismo policial mostra algo em comum com Nelson Rodrigues e nota-se essa referência ‘rodrigueana’ principalmente na forma da narrativa. A direção de DANIEL LOPES conduziu a montagem com maestria, valorizando os atores, pontuando os diálogos na ação dramática, com os conflitos bem resolvidos com precisão cirúrgica.
    Não poderia deixar de ressaltar as lutas cênicas, desenhadas por LUIS LOUIS, que merecem um aplauso especial, pois parecem muito reais, causando inclusive intervenção dos espectadores, que reagem junto com os golpes.
    Enfim, tudo com acabamento perfeito, sendo o espetáculo um presente para os palcos paulistas.

    SERVICO - Sexta 21h30min, sábado 21h, Dom 19h – Teatro Jaraguá – Rua Martins Fontes, 71, fone: 3255-4380 – 80 min. Até 26/11/2017. Ingressos: R$70,00 a R$80,00


O ANDARILHO

www.artedoentretenimentosp.blogspot.com   O ANDANTE   RODRIGO NASCIMENTO, ator vindo de algumas comédias de sucesso, mostra outra face d...