O teatro brasileiro deve muito a GIANFRANCESCO
GUARNIERI pela contribuição e
toda a sua contrapartida social. Autor
de Arena Conta Zumbi, Arena Conta Tiradentes, Castro Alves
Pede Passagem, Um Grito Parado no Ar, Gimba, A semente, Luta Secreta de Maria
da Encarnação, dentre outros
relevantes textos, os quais tocam profundamente pelos fortes diálogos, a
sensibilidade, a construção de um olhar cidadão como um todo, em fim, por nos
levar a refletir, debater e pela investigação apresentada.
”ELES
NÃO USAM BLACK TIE”, escrito em 1958, tem todas essas ferramentas. Texto que consagrou
a carreira de Guarnieri como dramaturgo, sua construção é perfeito, tem tudo o
que indica uma correta dramaturgia, ou seja, bons conflitos e ideia central. O
texto revela o encorajamento dos trabalhadores e a força que estes têm. Inserido
em questões políticas, contendo conflitos gerados a partir das relações
familiares: gravidez, casamento, educação e religião,
a moral, os valores, o trabalho, companheirismo e ainda uma história de amor, sem
pieguices. Todas essas ferramentas corroboram para que tudo permaneça muito
atual, instigando curiosidade a cada nova montagem. Em resumo, é um texto muito rico em todos os sentidos, postado em
um dos mais importantes da dramaturgia
nacional.
Dan Rosseto,
adaptador e diretor da nova montagem em cartaz no Teatro Aliança Francesa, imprimiu seu toque pessoal, deixando tudo com muito bom
gosto, resultando em um espetáculo irretocável, unindo a comédia ao drama sem
perder a classe, respeitando a proposta
original. O tom cômico promovido deixou o espetáculo leve, principalmente
quando a comédia é centrada na personagem mais humanizada, a dona de casa e mãe
de família “Romana” interpretada brilhantemente pela atriz TECA PEREIRA. Seu texto
falado no momento certo, com muita naturalidade e pausas precisas são plausíveis.
O casal vivido por KIKO PISSOLATO (Tião) E PALOMA BERNARDI
(Maria), dá conta do recado. Paloma é surpreendente e muito bem vinda nova
linguagem. Em fim todo o elenco: ADILSON AZEVEDO (Otávio), CAMILA BRANDÃO (Terezinha), CAROLINA STOFELLA (Dalva), PABLO
DIEGO GARCIA (João), PAULO GABRIEL (Jesuíno), SAMUEL CARRASCO (Chiquinho) e TIAGO
REAL (Braúlio),
se encontra impecável em um jogo o qual o
ganhador é o espectador.
Foto: Natalia Angelieri |
Tudo começa com a organização de uma greve objetivando
melhores condições de trabalho, sendo perceptível o envolvimento de todos, com
exceção de Tião, que por motivos particulares e egoísmo, acaba furando a greve,
pagando um alto preço. Sua traição é imperdoável, gerando muitos dissabores,
dentre eles a solidão e o abandono de todos. A Mãe é uma personagem fundamental
na história, embora tenha sido massacrada pela vida, sua sapiência seduz a
todos.
Foto: Natalia Angelieri |
É uma produção muito bem cuidada (FABIO CAMARA) e vale a pena ser
conferida, pela garra dos atores e toda equipe envolvida, pela valorização da
dramaturgia nacional e por ser teatro de qualidade, feito com qualidade. VIVA
GUARNIERI.
SERVIÇO – Teatro Aliança Francesa – Rua General Jardim, 182, Vila
Buarque – Fone: 3572-2379. Sexta e Sábado 20h30 e
Domingo 19h – Ingressos: 60,00. De 20/07 até 16/09/2018. Duração. 90 min. Classificação: 12
anos