Inspirado no conto da Dama de Villeneuve, em
1740, tornando-se popular por meio da versão de Jeanne-Marie LePrince de Beaumont em 1756, a narrativa gira em torno da maldição lançada à Fera, por ter se
negado ajudar uma mendiga, e sobre a vida da jovem Bela e os caminhos que ela
tem a seguir, que, diferente das irmãs, não se afasta do pai por este ter
perdido a fortuna e aceita a nova situação de vida ficando ao lado dele. Quando
atende ao pedido da filha, pegando uma rosa para presenteá-la, é surpreendido
pela Fera. Ao saber da prisão e o perigo que seu pai corre no castelo, a moça
se oferece para ficar em seu lugar, temendo pela saúde do pobre velhinho. No
castelo, todos se encantam com a moça humilde e cheia de gentileza no trato com
as pessoas, torcendo para que ela traga poesia ao coração da Fera. Bela
enfrenta a missão de lidar com a fera perigosa, desprovida de bons modos, sendo
avessa a tudo a que se refere à bondade, usufruindo da solidão e mau humor como
companhia, no entanto, bons momentos acontecem transformando a Fera aos poucos
em um ser sensível e amável, dando vazão ao amor.
Foto: Claudinei Nakasone |
Tradicionalmente, as montagens de “A Bela e a
Fera” não passam de um recorte do filme da Walt Disney, com roupas e cenários extravagantes,
irmãs se digladiando em torno do bonitão Gaston, sobressaindo o espetacular. ELOÍSA
VITZ, diretora e adaptadora do conto de fadas, apresenta o diferencial em sua
concepção e dramaturgia, resultando em uma versão inteligente e totalmente contemporânea,
com narrativa focada na interpretação dos atores, ações diretas, excluindo as mesmices.
O
grupo Gattu tem bons atores e o profissionalismo é incontestável: MIRIAM JARDIM, DANIEL GONZALES, LAURA VIDOTTO, CLAUDINEI NAKASONE, JAILTON
NUNES, LÍLIAN PERES, MARIANA FIDELIS, RODRIGO VICENZO,
fazendo tudo muito bem feito e com classe, dispensando aqui imprimir
comentários individuais sobre suas interpretações. O ambiente já começa a ser
acolhedor na chegada. Puro encanto. Prestigiar o trabalho dessa equipe se faz
necessário a todos os amantes de um bom teatro.
Foto: Claudinei Nakasone |
De súbito, o espectador é pego de surpresa com
a trilha sonora apresentada: Rock, com direito a eletrônica, extinguindo a
música carro chefe “A Bela e a Fera / Beauty And The Beast”, o
humor presente na personagem Fifi (MÍRIAM JARDIM) com seu sotaque francês muito
bem construído e compreensível deixando o espetáculo mais prazeroso e um Gaston
(JAILTON NUNES) intitulado patrãozinho, muito
narcisista, com “fisic du role” fora
dos padrões americanizados, fazem a diferença, pelo carisma e entrega as
personagens. São perceptíveis muitos valores embutidos, inclusive sobre a
questão do narcisismo, o feio e o belo, os quais estão postos em discussão,
cabendo reflexões diversas, e sem didatismo e pieguices, sobressai um bom
teatro e uma proposta plausível.
SERVIÇO – TEATRO DO SOL – Rua Damiana da cunha, 413, Santana – Tel.: 3791-2023 - Sábado e domingo:
16h. Entrada Franca.