Um
cordão típico das gafieiras mais tradicionais do país abre a versão de Villela
para a tragédia carioca de Nelson Rodrigues (1912-1980), escrita
em 1959. No elenco estão Malvino
Salvador, Lavínia Pannunzio, Mel Lisboa, Claudio Fontana, Chico Carvalho, Leonardo
Ventura, Cacá Toledo, Mariana Elisabetsky, Jonatan Harold e Guilherme Bueno.
Boca de Ouro é um lendário bicheiro
carioca, figura temida e megalomaníaca, que tem esse apelido porque trocou
todos os dentes por uma dentadura de ouro. Também é conhecido como o Drácula de
Madureira. Quando Boca é assassinado, seu passado é vasculhado por um repórter.
Sua fonte é dona Guigui, a volúvel ex-amante do contraventor, uma mulher que,
ao longo da peça, revela diferentes versões do bicheiro.
Foto: João Caldas |
Malvino Salvador é Boca de Ouro, Mel Lisboa e Claudio
Fontana fazem o casal Celeste e Leleco, e Lavínia Pannunzio vive
a transtornada Guigui, ao lado de Leonardo Ventura, que faz
seu fiel e apaixonado marido, Agenor. Chico Carvalho é
Caveirinha, o repórter rodriguiano, que carrega em si o olhar afiado e crítico
do dramaturgo-jornalista, que durante anos trabalhou em Redações e conheceu ele
próprio os vícios e contradições da imprensa. Chico também interpreta a
grã-fina Maria Luisa. Cacá Toledo eGuilherme Bueno completam
o elenco.
Jonatan Harold assume o piano desta gafieira carioca oferecendo a
ambiência musical para Mariana Elisabetsky interpretar as
canções imortalizadas por Dalva de Oliveira (1917-1972).
Como toda a ação proposta por
Nelson Rodrigues parte da mente contraditória de Dona Guigui, as diferentes
narrativas da personagem são exploradas pelo encenador de forma muito diversa.
A cada versão de Guigui, a arena de Villela circula, ressaltando o espaço
arquetípico convergente, assim como o salão circular de uma gafieira, ou um
ciclo de vida que se encerra.
Dentro das iconografias do
subúrbio carioca, Gabriel se utiliza da simbologia do Candomblé e das
mascaradas astecas no espetáculo. A casa de Celeste e Leleco traz muitas representações
de Orixás sincretizados. A figura de Iansã, (Guilherme Bueno) aparece
toda vez que uma cena de morte acontece. Iansã faz a contrarregragem das mortes
da estória.
O Brasil cabe todo nesta arena: a
política, as narrativas contraditórias, a libido, a festa da gafieira, o jogo
do bicho, a fé e a música. Retratos de uma época que nos mostram que o Brasil
pouco mudou, e que nosso dramaturgo nascido em Pernambuco em 1912 e radicado no
Rio de Janeiro, nunca foi tão atual.
Além da direção,
Gabriel Villela assina os figurinos e a cenografia. A iluminação é de Wagner Freire, a direção
musical e preparação vocal são assinadas por Babaya e
a espacialização e antropologia da voz por Francesca Della Monica.
Os diretores assistentesIvan Andrade e Daniel Mazzarolo completam
a equipe criativa.
As diferentes narrativas para um
mesmo fato, impulsionadas pelos amplos aspectos psicológicos dos personagens,
cerne da dramaturgia de Boca de Ouro, já foram anteriormente exploradas
em Rashomon, de Kurosawa, filme que descreve um estupro e
assassinato por meio dos relatos amplamente divergentes de quatro testemunhas,
e também em Assim É Se Lhe Parece, dePirandello, na qual os
depoimentos conflitantes da sogra e do genro sobre suas situações familiares
geram curiosidade doentia nos moradores da cidade no interior da Sicília.
Esta é a terceira montagem de
Nelson Rodrigues feita por Gabriel Villela. Em 1994 ele montou A
Falecida, com Maria Padilha no papel título, depois foi a vez de Vestido
de Noiva, em 2009, protagonizado por Leandra leal, Marcello Antony e Vera
Zimmerman.
Ficha Técnica
Texto: Nelson Rodrigues. Direção, Cenografia e Figurinos: Gabriel Villela. Elenco: Malvino
Salvador, Lavínia Pannunzio, Mel Lisboa, Claudio Fontana, Chico Carvalho,
Leonardo Ventura, Cacá Toledo, Mariana Elisabetsky, Jonatan Harold e Guilherme
Bueno.Iluminação: Wagner Freire. Direção Musical e
preparação Vocal: Babaya. Espacialização vocal e antropologia
da voz:Francesca Della Monica. Pianista: Jonatan
Harold. Diretores assistentes: Ivan Andrade e Daniel
Mazzarolo. Foto: João Caldas Fº.Produção executiva: Luiz
Alex Tasso. Direção de produção: Claudio Fontana.
Serviço
BOCA DE OURO, de Nelson
Rodrigues, tragicomédia. Boca
de Ouro é um lendário bicheiro carioca, figura temida e megalomaníaca, que tem
esse apelido porque trocou todos os dentes por uma dentadura de ouro. Quando
Boca é assassinado, seu passado é vasculhado por um repórter. Sua fonte é dona
Guigui, a volúvel ex-amante do contraventor, uma mulher que revela diferentes
versões do bicheiro. Elenco: Malvino Salvador, Lavínia
Pannunzio, Mel Lisboa, Claudio Fontana, Chico Carvalho, Leonardo Ventura,
Mariana Elisabetsky, Cacá Toledo, Jonatan Harold e Guilherme Bueno Direção: Gabriel
Villela. Duração: 100min. Teatro VIVO. Somente dias 15,
16 e 17/6. Sexta às 20h, sábados às 21h e domingos às 19h00. Ingressos: R$
50. Classificação 14 anos.
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