domingo, 27 de outubro de 2019


Pedro Cosmos

BRIAN OU BRENDA?

Depois do sucesso de público no Centro Cultural São Paulo, o teatro VIGA ESPAÇO CÊNICO recebe o espetáculo BRIAN OU BRENDA? Texto bem sucedido de FRANZ KEPPLER, a partir de 25 de outubro às 21h, trazendo uma temática social muito atual, polêmica em uma montagem que se faz necessária, ser objeto de debate, reflexão, de aceitação e o principal que é o respeito acima de tudo. A narrativa tem como plano de fundo a discussão de identidades a partir do polêmico caso real de DAVID REIMER
  
                                                                              Foto: Heloísa Bortz


“Em 1965, nascem os gêmeos Brian e Bruce, que são submetidos a uma cirurgia de fimose aos 8 meses. Durante esse procedimento, o pênis de Brian é acidentalmente cauterizado. Atônitos, os pais procuram o psiquiatra John Money, que defende a tese de que os bebês nasceriam neutros e teriam seu gênero definido pela criação. Ele aconselha a família a fazer em Brian uma operação de redesignação sexual e a educá-lo conforme uma menina. 
A criança passa a ser chamada de Brenda. O resultado é uma menina que cresce infeliz em um corpo que não é seu e, ainda adolescente, tenta se matar. Os pais decidem contar a verdade e, então, Brenda resolve ir em busca da real identidade que nunca havia deixado de ter”. 

                                                                             Foto: Heloísa Bortz

Conflito perfeito para ser transformado em eloquentes ações dramáticas, embora tenha causado muitas perdas irreparáveis em um ser humano, a narrativa é interpretada fazendo a plateia se comover, haja vista, vários espectadores secando as lágrimas, obviamente porque tocou e isso é muito significante e a ideia da montagem trouxe contrapartida social impagável em todas as especificidades.

A discussão entre a ciência e os envolvidos vem a tona, cada um na defesa dos seus interesses, no entanto, a violência sofrida pelo jovem é fomentada e usada por pesquisadores e instituições de todo mundo.
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A direção do espetáculo é da parceria entre YARA DE NOVAES CARLOS GRADIM, e o resultado é plausível, pois o teatro está corroborando como sempre para postar o seu público no lugar do outro e por meio dessa empatia, se apropriar das possíveis transformações.

                                                                         Foto: Heloísa Bortz

O elenco composto por AUGUSTO MADEIRA, DANIEL TAVARES, GIOVANNI VENTURINI, JIMMY WONG, KAY SARA, LAVÍNIA PANNUNZIO, MARCELLA MAIA e PAULO CAMPOS é formidável, um elenco muito coeso, a opção na escolha desses artistas foi pelas características físicas, pessoas com diferentes origens, condições físicas, etnias e identidades de gênero, para promover justamente as diferenças, e a entrega é perfeita diante de personagens densos e com intensa carga dramática.

Em 2018, o grupo foi contemplado na 1ª edição do PRÊMIO CLEYDE YÁCONIS, da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo e vale apena ser prestigiado pela garra, a força e a coragem desses guerreiros que não hesitam em apresentar diante de tantas turbulências, um teatro de extrema qualidade.

SERVIÇO – VIGA ESPAÇO CÊNICO– Rua Capote valente, 1323, Sumaré – Fone: 3801-1843 – Sexta e sábado, 21h; domingo, 19h. Ingressos: R$20 (inteira) e R$10 (meia-entrada). Classificação: 14 anos. Duração: 85 min. De 25/10/19 a 17/11/19.


Pedro Cosmos

A NOVA ROUPA DO REI

Os contos de fadas tem contribuição intrínseca e subjetiva entre nós e de certa forma corrobora com nossa transformação social, por termos vivenciado este tipo de narrativa no nosso processo de aprendizagem, sendo leituras que faziam sentido, se tornando prazerosas nas vivências, nos debates, nas reflexões e reescritas.

Dramatizar essas histórias é uma ação muito acertada, pois o desejo de fruir e se debruçar na ludicidade que elas propiciam não tem preço. Por sua vez, os pequeninos são conduzidos a conhecerem esse rico universo, atendendo ainda a escolha dos pais e responsáveis que acabam influenciando nas formas de entretenimento de seus pupilos.

O GRUPO GATTU, não hesitou em escolher um bom objeto de desejo, pois apresenta a sua nova montagem, presenteando o teatro para a Infância e Juventude em alto estilo: Trazendo para o palco o conto de fadas do dinamarquês HANS CHRISTIAN ANDERSEN, publicado em 1837, A NOVA ROUPA DO REI, de forma inovadora, a qual agrada crianças, jovens e adultos,.
 O enredo tem a essência do tradicional conto, ressaltando a vaidade exacerbada, obviamente versando ainda sobre a inteligência, fazendo evidentemente, as pessoas enxergarem o que a elas convém, "Consigo tecer uma roupa que somente os inteligentes conseguem ver!" já que o verdadeiro ego tem necessidade de prevalecer.
Nesse caso aqui representado pelo Rei, que se deixa levar com muita ingenuidade, se permitindo enxergar o invisível. Justamente pelo fato de os farsantes usarem objetos invisíveis, eles convencem em seu plano, induzindo que conseguem fazer mágica, levando todos a acreditarem que realmente o Rei terá uma nova roupa e este por sua vez acredita estar com a tal vestimenta imponente.

Com texto escrito e dirigido por ELOÍSA VITZ, criadora do GATTU, a dramaturgia apresenta uma versão moderna e eloquente, fascinando a todos. Com leitura contemporânea, a narrativa se mostra totalmente atual, indo das músicas as coreografias, aliás, contextualizadas com “balada”, sem perder o bom gosto, a  produção muito bem cuidada, pensou em um teatro para todos.

O espetáculo é contemplado pela LEI ROUANET e apresentado para o público gratuitamente como contrapartida social, além do que o próprio teatro já apresenta para os cidadãos. O grupo continua em harmonia, deixando os espectadores bem familiarizados com o seu fazer teatral incessante, sendo impossível não retornar aquele ambiente e fazer questão de acompanhar tudo o que ali é produzido.


No elenco, os atores MARIANA FIDELIS, DANIEL GONZALES, MÍRIAM JARDIM, LAURA VIDOTTO, JAILTON NUNES, LILIAN CORREIA PERES,  dão conta do recado, jogando muito bem. Atores estes que juntamente com ELOÍSA VITZ, se mostram em constante pesquisa, com processo de trabalho continuado, fazendo jus de ganharem editais públicos, circular com suas produções para que os cidadãos usufruam da linguagem teatral e também continuar com sua efervescência cultural no processo de formação de plateia, sendo bem vinda novas montagens para enriquecer o nosso cenário teatral.

MÍRIAM JARDIM é ganhadora do VI Prêmio Aplauso Brasil na categoria Melhor Atriz e continua como fiel escudeira de ELOÍSA na assistência de direção.  
Eloísa, “a frente do Grupo Gattu realizou, entre outros, os espetáculos: Auto da Barca do Inferno de Gil Vicente (2008);Viúva porém Honesta de Nelson Rodrigues (2008/ 2009/2011); Dorotéia de Nelson Rodrigues (2008/2009/2010/2011);Boca de Ouro de Nelson Rodrigues (2010/2011/2012); Serpente de Nelson Rodrigues (2011/2012); e A Falecida de Nelson Rodrigues (2017). São de sua autoria os textos das peças:  Rapunzel (2012/2013/2014); indicado ao Prêmio FEMSA de melhor texto adaptado para teatro infantil, Frisante (2013);  Reino (2014); – vencedor do prêmio de melhor texto do Portal R7,  Reino 2 (2015); Amor (2015); Cinderela (2016); Fortuna (2016;, Graça (2017);  A Bela e a Fera (2018) e Glória, alem de ter se destacado como atriz no grupo TAPA em vários espetáculos.
Em fim, vale a pena prestigiar o grupo, os atores e manter a chama teatral acesa.
Foto: Claudinei Nakasone
SERVIÇO – TEATRO DO SOL – Rua Damiana da cunha, 413, Santana – Tel.: 3791-2023 – Sábado e domingos às 16h. Entrada Franca.  A PARTIR DE 12/10/19 POR TEMPO INDETERMINADO. 60 minutos. Classificação livre.



Pedro Cosmos

A HISTÓRIA DE NÓS 2

A comédia romântica de LÍCIA MANZO, muito bem escrita e com direção irretocável de ERNESTO PICCOLO em cartaz no teatro porto Seguro, mostra um casal recém-separados, que ao se encontrarem, quando ele retorna para retirada dos pertences, fazem um flashback dos momentos de convivência, relatando alegrias, dissabores, cumplicidades e muitas situações do cotidiano do casal, as quais fazem os espectadores se sentirem diante das hilárias cenas, vindo a tona altas risadas, as vezes de maneira bem peculiar.

É uma elegante, poética, leve e necessária para os casais se virem em várias situações cotidianas e para ambos refletirem sobre algumas atitudes, suas cobranças, deveres e outras casualidades que permeiam o universo dos casais, na verdade, fazendo-nos rir de nós mesmos. Não a toa está completando 10 anos em cartaz e promete ficar em cena circulando por muitos teatros, as várias indicações ao prêmio APCA, fazem muito sentido e é bem merecida.

Os atores ALEXANDRA RICHTER (Lena)  e MOUHAMED HAFOUCH, (Edu), atores muito experientes e que transitam na TV, teatro e cinema, estão impagáveis, a entrega é perfeita, pois dão vida a humorada peça, com muita desenvoltura corporal, cumplicidade com a plateia, com números perfeitos de dança, promovendo muita empatia, arrancando aplausos em cena aberta constantemente.
É muito interessante vê-los trazer para a cena, as demais personagens, somando-se literalmente em seis: Edu, Duca, Carlos Eduardo, Lena, Mammy e Maria Helena, que com muita inteligência e uma sacada perfeita, dão corpo e voz às diferentes ‘facetas’ de um mesmo homem e uma mesma mulher, tendo o resultado plausível.

                                                         Foto: Crica Richter

A produção é da Turbilhão de Ideias, empresa de Gustavo Nunes, que tem mostrado grandes contribuições ao teatro paulista, se cercando de profissionais altamente qualificados, contemplando o público por produções de alto nível:
Meu Quintal é Maior que o Mundo (direção de Ulysses Cruz, com Cássia Kis), Perfume de Mulher, (direção de Walter Lima Jr. e Gabriela Duarte no elenco), Simples Assim (com Julia Lemmertz, Georgiana Goes e Pedroca Monteiro, direção de Ernesto Piccolo) e Isso que é Amor (direção de Ulysses Cruz, com canções de Luan Santana).

SERVIÇO – TEATRO PORTO SEGURO - Alameda Barão de Piracicaba, 740 - Campos Elíseos. Tel.: 3226.7300.  IngressoSexta-feira - R$ 80,00 (plateia/inteira) e R$ 40,00 (meia) – balcão e frisa R$ 45,00 (inteira) e R$ 22,50 (meia). Sábado e Domingo - R$ 100,00 plateia (inteira) e R$ 50,00(meia), balcão e frisa R$ 45,00 (inteira) e R$ 22,50 (meia). Duração: 65 minutos. Classificação: 12 anos. (TRANSPORTE GRATUITO ESTAÇÃO LUZ – Teatro oferece vans gratuitas da Estação Luz até as dependências do Teatro).


terça-feira, 8 de outubro de 2019


Pedro Cosmos
A INCRÍVEL E TRISTE HISTÓRIA DA CÂNDIDA ERÊNDIRA E SUA AVÓ DESALMADA
Será que o fato de Cândida Erêndira ter acordado com um candelabro ao lado, teria sido ela a causadora do incêndio que destruiu a casa em que morava fazendo sua avó se vingar dela, obrigando a neta se prostituir para pagar o prejuízo?
Baseado no conto de GABRIEL GARCIA MÁRQUEZ, de 1972, com adaptação de AUGUSTO BOAL, a dramaturgia de CLAUDIA BARRAL, traduzida por CECÍLIA BOAL está em boas mãos.
 O diretor MARCO ANTONIO RODRIGUES, uniu uma trupe de atores, desprovido de egos, muito bem preparados na estética de rua e circo, com composições perfeitas: GIOVANA CORDEIRO, MAURÍCIO DESTRI, CHICO CARVALHO, DAGOBERTO FELIZ, GUSTAVO HADDAD, MARCO FRANÇA, ERIC NOWINSKI, ALESSANDRA SIQUEYRA, CAIO SILVIANO, DANI THELLER, DEMIAN PINTO, JANE FERNANDES, RAFAEL FAUSTINO para contar o sofrimento da personagem título e as aventuras para se livrar das maldades da avó megera, que, embora, seja surreal, o resultado é plausível.
A história de Cândida Erêndira produzida por LUQUE DALTROZO, realização do SESI é muito bem produzida e contada com maestria. Na narrativa, uma avó, fora dos padrões convencionais, obriga a neta a se prostituir, como forma de se vingar da menina. Em meio as aventuras e desventuras, crueldade, poesia e música o espetáculo ganha graça, se tornando um entretenimento prazeroso, a crueldade e a falta de afetividade são ingredientes que perdem força na dramaticidade promovida pelos personagens.

O ator CHICO CARVALHO está se sentindo muito confortável ao interpretar a Avó. Suas tiradas são impagáveis. Emprega muita comédia, ironia a personagem e sem usar de amuletos na composição, ninguém sente falta de uma atriz na personagem feminina, pois tudo cai feito uma luva. A maneira que a plateia torce pela ajuda mágica que favoreça a menina, torce para que a avó entre em cena, porque tudo se torna em um crescente graças a boas ações dramáticas e cenas ricamente desenvolvidas com muita comicidade, tornando a personagem de grandiosidade ímpar.

 

GIOVANA CORDEIRO vive a menina, em um trabalho tenso, profundo, sofrido, um talento inquestionável surgindo nos palcos. Canta, interpreta e convence com sua desenvoltura e entrega. A Parceria em cena com Maurício Destre, que vive Ulisses, o príncipe que vem salvar a moça é louvável. Tarefa árdua é se livrar da velha para que ele possa ter a moça em seus braços. O ator é muito bem vindo aos palcos e está no caminho certo.


Merece destaque o nosso grandioso ator DAGOBERTO, que conduz toda história com sua narração majestosa, ressaltando carisma e com muita interação com a plateia.

 

Em fim, um elenco de talentos, sendo desnecessárias impressões individuais, valendo ressaltar que deve se prestigiar essa aventura e deixar as asas da imaginação adentrar nas letras do grande autor Garcia Marques, que embora a obra seja de 1972, é contextualizada com os tempos atuais, fazendo-nos rir de nós mesmos.

Foto: Leekyung Kim
SERVIÇO – TEATRO DO SESI – SPAv. Paulista, 1313, Cerqueira césar Tel.: 3146-7439. Quinta a sábados: 20h. Domingos: 19h. Ingressos: Gratuito. De 05/09 a 08/12/19. Duração: 120 minutos.  Classificação: 12 anos. (Reservas antecipadas no site www.centroculturalfiesp.com.br  (Abertas todas as segundas-feiras, às 8h. Ingressos remanescentes serão distribuídos no dia da apresentação, 15 minutos antes na bilheteria do Teatro.)


O ANDARILHO

www.artedoentretenimentosp.blogspot.com   O ANDANTE   RODRIGO NASCIMENTO, ator vindo de algumas comédias de sucesso, mostra outra face d...