BARRELA
Plínio Marcos (1935-1999), um dos mais importantes dramaturgos
brasileiros, autor de inúmeras peças de teatro, escritas em sua maioria na
época do regime militar, se mostra atual pela forte narrativa a qual o ser
humano se mostra por inteiro, sem máscaras, expondo suas verdades e apontando
pontos de vista da sociedade que esbarra em debate e reflexão diversa, em sua
maioria, mostra uma sociedade que a “sociedade” ignora ou finge desconhecer.
Seus textos levam os atores a pesquisar o submundo e se entender como “gente”
em um ambiente aonde o lema é “sobreviva se puder”.
BARRELA, primeira peça escrita
por Plínio em 1958, inspirada na história de
um garoto de Santos que foi preso e violentado na cela, tendo que aceitar
acordos estipulados para a sua convivência, ganha montagem dirigida pelo ator e
dramaturgo MÁRIO BORTOLOTTO, a frente do seu notório grupo CEMITÉRIO DE
AUTOMÓVEIS, que presta uma justa homenagem aos 20 anos da morte de Plínio.
Homenagem louvável e meritória ao dramaturgo e vinda do Mário é mais do que
acertada, pois ambos compartilham em suas obras
o mesmo universo urbano e violento.
Confinados no submundo do
crime, os atores MÁRIO BORTOLOTTO, WALTER FIGUEIREDO, MARCOS GOMES, NELSON
PERES, PAULO JORDÃO (RODRIGO CORDEIRO), ANDRÉ CECCATO (MARCOS AMARAL), DANIEL
SATO E ALEXANDRE TIGANO, dando vida às personagens, os quais vivem a narrativa
nua, crua e assustadora, entre trancos e barrancos, revelando elementos
intrínsecos desses marginais, os quais se excluem de qualquer transformação
social, de reflexão, pois o que impregna no ambiente é o individualismo.
Bereco, interpretado pelo
Bortolotto é o xerife da cadeia, sua autoridade é ameaçada, fatos revelados,
jura de vingança, e diante de tantos homens famintos sexualmente, o desejo pela
prenda nova na cela extrapola o seu poder e a violência é apresentada.
Segundo Bortolotto, “Plínio foi um dos primeiros autores de
teatro brasileiro que eu conheci, ainda garoto. Para mim sempre foi impactante
o jeito cru que ele escrevia suas peças, sem firulas, indo direto ao ponto,
pegando pesado, sem dar trégua ao espectador. Acho que tudo tem seu momento.
Não calhou antes de eu conseguir encenar nada dele. Aconteceu agora e está
sendo ótimo. “Barrela” ainda é a peça que eu mais gosto do Plínio”.
Portanto, vale a pena ser
prestigiado, tanto pelo Plínio, quanto pelo trabalho que o CEMITÉRIO DE
AUTOMÓVEIS promove na cidade de São Paulo com o seu teatro necessário, de
resistência e feito com maestria entre amigos.
Fotos: Lucas Mayor
SERVIÇO - CEMITÉRIO
DE AUTOMÓVEIS: Rua Frei Caneca, 384. Tel.: (11) 2371-5743- Sexta e sábado às 21h e domingo às 20h. Ingressos: R$ 40,00. Duração: 60 min. Classificação: 16 anos. Temporada: 30/08
a 27/10/19.
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