CAROS
OUVINTES
OTÁVIO MARTINS, artista o qual tem se mostrado
competentíssimo em todas as funções que lhe são atribuídas, é o responsável
pela empreitada, tendo como assistente na direção MARCOS
DAMIGO, que já bem familiar por ter participado da primeira montagem.
Na narrativa, vemos por meio de uma comédia, como se dá o processo de uma radionovela, sob o ponto de
vista dos atores que faziam sucesso nas radionovelas, e nesse ínterim, o espectador é presenteado com uma aula de como se dá todo
o universo que se instala numa produção e execução de uma novela radiofônica, tendo
ainda casos amorosos, música e bons conflitos que apimentam a comédia.
Na primeira montagem
contou com um elenco brilhante: Marcos Damigo, Ivo Muller, Oscar Filho, Nany
People, Elam Lima, Camilla Camargo, Eduardo Semerjian e na segunda montagem,
uniu um elenco formidável com tudo para não deixar a peteca cair: DALTON VIGH, FERNANDO PAVÃO, AGNES ZULIANI, NATÁLLIA RODRIGUES, EDUARDO SEMERJIAN, ALEX
GRULI, CAROL BEZERRA E LÉO STEFANINI.
Dos anos 1950 até 1970 a radionovela era um sucesso
como forma de entretenimento. Atores como Armando Boggus, Lima Duarte, Laura
Cardoso, Vera Nunes, Vida Alves, Paulo Gracindo, entre outros, despontaram como
artistas por meio do seu desempenho nessa arte. Talento esses que sobreviveram
ao tempo, diferentemente da contemporaneidade que sobressaem os corpos malhados,
como meramente produtos para consumo instantâneo.
Os ouvintes em sua maioria eram do sexo feminino e com a chegada da
televisão, os anúncios eram voltados para os produtos de limpeza e necessidades
femininas, os anunciantes migraram para o novo veículo e os produtores não
puderam mantê-las em prol de o custo ser muito alto, assinando dessa forma a
decadência das radionovelas.
Novelas como O HOMEM SEM PASSADO, O RESGATE DA FELICIDADE, A AMIZADE NÃO
TEM PREÇO, ainda se encontram a venda para matar o desejo de curiosos de
plantão. A partir desse momento, muitos
autores das radionovelas sentiram necessidade de migrar para a telenovela,
citando Ivani Ribeiro, Janete Clair, entre outros autores. A novela “Jerônimo” foi um estrondoso sucesso na
radionovela, recebendo adaptação posteriormente para a telenovela, bem como “O Direito de Nascer”, exibida em 1951,
sendo esta radionovela um fenômeno de audiência.
Para quem nunca se deparou ouvindo novela de rádio é difícil imaginar o
que se passa na mente do ouvinte sentindo a necessidade de visualizar tudo o
que permeia determinada cena, o contexto que se estabelece, sem nenhuma
identidade visual que o oriente no desenrolar de determinada trama, como se dá
a sonoplastia, os cenários onde as narrativas acontecem e os possíveis erros
que precisam ser coibidos. Por se tratar de uma obra feita ao vivo, verificam-se
improvisos rápidos e coerentes, que só grandes atores possuem esse feeling. Outro
item importante é como se dá a roteirização, a qual precisa despertar no
ouvinte a vontade de acompanhar a novela.
Na televisão, o espectador não precisa viajar ludicamente, já se tem
tudo isso pronto. Uma concorrência entre os dois veículos Televisão e Rádio
nesse sentido seria puramente desleal. O ouvinte da novela de rádio precisava
ter várias leituras, despertar a imaginação para criar uma imagem simbólica com
a beleza dos mocinhos e as demais personagens.
Nos anos 1980 o gênero foi desaparecendo, tendo reprise em algumas
rádios descentralizadas, apesar de algumas tentativas isoladas de reativá-lo. E
com isso a radionovela foi se adaptando à nova era das televisões.
CAROS OUVINTES nos levam para um ambiente onde mostra uma novela sendo feita ao vivo, a discussão de todos os problemas que permeiam uma produção, envolvendo a emissora, patrocinadores, produtores e elenco. Com a chegada da televisão, os artistas perdem espaço, pois outra forma de comunicação será evidenciada e esses profissionais ficam a deriva em meio a tantos dissabores. O elenco dispensa qualquer observação quanto ao seu desempenho, mas vale ressaltar o momento de ALEX GRULI, que está aproveitando o máximo para mostrar seu talento, carisma e comicidade, sobressaindo no gênero comédia e suas ações na execução da sonoplastia contempla a plateia, deixando a peça mais atrativa.
Aliás, o espetáculo
começa a ficar ainda mais interessante quando começa a execução da novela, conflitos
começam aparecer mostrando-se mais evidentes, promovendo em todas as cenas,
muita ação e um ritmo incrível. A notícia de que aqueles artistas perderão seu
trabalho em prol da chegada das telenovelas é comovente instalando um enorme
silêncio.“Eu te dei tudo e hoje não sou
nada”, seria um resumo do desabafo daqueles profissionais. LÉO
STEFANINI, não poderia deixar de ressaltar o talento desse artista. Em fim, o
elenco é um acerto. Todos brilham e tem o seu momento plausível.
Em fim, CAROS OUVINTES vale a pena ser vista, por tudo que nos
apresenta, pela pesquisa e pela coragem de um elenco muito comprometido com a
arte de fazer rir e mostrar um teatro da mais autêntica qualidade.
Fotos: Heloisa Bortz
SERVIÇO – TEATRO RENAISSANCE –
Alameda Santos, nº 2233– Cerqueira Cesar. Tel.: 3069-2286- Sextas e sábador, às
21h e domingo 18h. Ingressos: R$ 100,00. Duração: 90 minutos
- Classificação: 12 anos
– De 02/08 a 29 de setembro/19.
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