Pedro Cosmos
MADAME SATÃ
A
montagem de uma lenda já muito debatida, já vista no cinema, cabe ser
revisitada na dramaturgia de MARCOS FÁBIO DE FARIA E RODRIGO JERÔNIMO, que
diante de seu empenho e busca para teatralizar um texto biográfico, soube transformar
as ações cênicas, com músicas inéditas especialmente compostas, fazendo
transposição para a poesia, em meio a toda contrapartida ofertada na encenação.
O
Grupo mineiro intitulado GRUPO DOS DEZ, conhecido pelos espetáculos “GALANGA, CHICO REI” e pelo sucesso de crítica e público MADAME SATÃ, dentre outros, se uni a atores
paulistas, e nessa junção trazem pela segunda vez a sua pérola maior para os
nossos palcos.
O
elenco é composto por artistas mineiros e paulistas: BIA NOGUEIRA, TELMA DIAS,
TAIGUARA NAZARÉ, CARLA GOMES, ALLYSSON SALVADOR, GABRIEL COUPE, RODRIGO NEGÃO,
ESDRAS DE LÚCIA, DRICA FERREIRA, PEDRO
LEAL e outros.
O
musical MADAME SATÃ, apresenta inegável contribuição à nossa cultura brasileira
e aos palcos paulistas. Um resgate as nossas identidades, tornar visível o
invisível, colocar a diversidade promovendo reflexão sobre os seres humanos, a
alteridade, a igualdade de gênero pedindo para ser respeitada, mostrando um
retrato da homofobia.
Uma
proposta para ser enxergada com primor, por dialogar com os menos favorecidos,
por sair do lugar comum, ou seja, fora do foco dos padrões europeus, limitando
patrocinadores e casas de espetáculos por se tratar de um espetáculo que foge
dos padrões “cultura é mercadoria”.
O
melhor disso tudo é reencontrar o feito do grande diretor, o saudoso JOÃO DAS NEVES (+2018) que nos deixou
sua marca. Em parceria com Rodrigo
Jerônimo, o espetáculo esteve em boas mãos, o olhar dos diretores, juntamente
com o talento de toda a equipe deixou a montagem irretocável, poética, valorizando
os atores com suas personagens e habilidades, completos por usarem
instrumentos, o canto, a dança e a representação.
A
trupe inicia a representação na rua, uma maneira muito acertada de iniciar o
espetáculo, já mostrando de cara a ideia central, visto que contextualiza com a
realidade, travestis no ponto, mulheres prostitutas em disputa pelo território,
culminando com o assassinato de um dos profissionais da noite, por um
motoqueiro, o qual acaba ficando impune, invisível, diante de todos os presentes.
Em
sua narrativa, a triste história de MADAME SATÃ, (João Francisco dos Santos) transformista
negro, nordestino e homossexual. No Bairro da Lapa – Rio de Janeiro. Revezando
entre três atores, Satã se mostra guerreiro ao enfrentar o abuso de poder da
polícia, do seu desrespeito, a homofobia explícita, a forma de constrangimento
de toda natureza, a qual reduzindo a pó os homossexuais e travestis. O
Capoeirista não se curvava e não se contentava por se vir tratado como marginal,
e nem por presenciar o assassinando de muitos dos seus colegas. Em fim, relata
a realidade nua e crua, o sofrimentos desses sujeitos que sempre foram
excluídos pela sociedade, em um jogo de “sobreviva
se puder”. Cadeia, violência, abuso sexual, drogas, e os valores exclusos como
o reconhecimento, o apreço a tolerância, o respeito e o amor ao próximo fora de
cogitação.
A
direção musical é de Bia Nogueira.
SERVIÇO
– TEATRO JARAGUÁ - Rua Martins Fontes, 71 -
Centro. Tel.: 3255-4380 - Sextas e
sábados: 21h; domingo, às 19h. Ingressos:
R$60,00. De 12/07 a 08/09/19. Duração: 80 minutos. 16
anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário