segunda-feira, 2 de setembro de 2019



BARRELA

Plínio Marcos (1935-1999), um dos mais importantes dramaturgos brasileiros, autor de inúmeras peças de teatro, escritas em sua maioria na época do regime militar, se mostra atual pela forte narrativa a qual o ser humano se mostra por inteiro, sem máscaras, expondo suas verdades e apontando pontos de vista da sociedade que esbarra em debate e reflexão diversa, em sua maioria, mostra uma sociedade que a “sociedade” ignora ou finge desconhecer. Seus textos levam os atores a pesquisar o submundo e se entender como “gente” em um ambiente aonde o lema é “sobreviva se puder”.

BARRELA, primeira peça escrita por Plínio em 1958, inspirada na história de um garoto de Santos que foi preso e violentado na cela, tendo que aceitar acordos estipulados para a sua convivência, ganha montagem dirigida pelo ator e dramaturgo MÁRIO BORTOLOTTO, a frente do seu notório grupo CEMITÉRIO DE AUTOMÓVEIS, que presta uma justa homenagem aos 20 anos da morte de Plínio. Homenagem louvável e meritória ao dramaturgo e vinda do Mário é mais do que acertada, pois ambos compartilham em suas obras o mesmo universo urbano e violento.

                               

Confinados no submundo do crime, os atores MÁRIO BORTOLOTTO, WALTER FIGUEIREDO, MARCOS GOMES, NELSON PERES, PAULO JORDÃO (RODRIGO CORDEIRO), ANDRÉ CECCATO (MARCOS AMARAL), DANIEL SATO E ALEXANDRE TIGANO, dando vida às personagens, os quais vivem a narrativa nua, crua e assustadora, entre trancos e barrancos, revelando elementos intrínsecos desses marginais, os quais se excluem de qualquer transformação social, de reflexão, pois o que impregna no ambiente é o individualismo.



Bereco, interpretado pelo Bortolotto é o xerife da cadeia, sua autoridade é ameaçada, fatos revelados, jura de vingança, e diante de tantos homens famintos sexualmente, o desejo pela prenda nova na cela extrapola o seu poder e a violência é apresentada.

Segundo Bortolotto, “Plínio foi um dos primeiros autores de teatro brasileiro que eu conheci, ainda garoto. Para mim sempre foi impactante o jeito cru que ele escrevia suas peças, sem firulas, indo direto ao ponto, pegando pesado, sem dar trégua ao espectador. Acho que tudo tem seu momento. Não calhou antes de eu conseguir encenar nada dele. Aconteceu agora e está sendo ótimo. “Barrela” ainda é a peça que eu mais gosto do Plínio”.

Portanto, vale a pena ser prestigiado, tanto pelo Plínio, quanto pelo trabalho que o CEMITÉRIO DE AUTOMÓVEIS promove na cidade de São Paulo com o seu teatro necessário, de resistência e feito com maestria entre amigos.

Fotos: Lucas Mayor

SERVIÇO - CEMITÉRIO DE AUTOMÓVEIS: Rua Frei Caneca, 384. Tel.: (11) 2371-5743- Sexta e sábado às 21h e domingo às 20h. Ingressos: R$ 40,00. Duração: 60 min. Classificação: 16 anos. Temporada: 30/08 a 27/10/19.



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