terça-feira, 15 de agosto de 2017

REALISMO E HUMOR DÃO O TOM DE LILI CARABINA

    Por Pedro Cosmos

    Uma frase repetida por Lili Carabina pontua o que se deve esperar: “A pessoa nasce para aquilo que ela é!”. Nesse ínterim, a dona de casa da baixada fluminense, Elisa interpretada por VIVIANE ARAÚJO renega o seu nome, passando a chamar-se Lili Carabina. Com muita sede de justiça, toma gosto pelo crime, junta-se a um bando de assaltantes para vingar a morte do marido. Em uma cena impactante ela tortura e mata o personagem Arnaldo, suposto assassino do seu marido, interpretado com muita garra pelo talentoso ator ARNALDO D'ÁVILA.
    Sempre munida com uma escopeta calibre 12, disfarçada com uma peruca loira e roupas sensuais, se torna a líder de uma quadrilha que aterroriza o Rio de Janeiro, dessa forma mergulha no mundo do crime, comete assaltos e assassinatos sendo perseguida pelo delegado de polícia Renato, papel vivido por MATEUS CARRIERI, o ator usa um recurso na voz, uma espécie de falsete rouco, deixando a sua interpretação muito interessante.
    Cleber Colombo, Mateus Carrieri, Viviane Araújo, Alex Gruli e Higor Vasconcelos
    Foto: Nina Vetta
    A bandida justiceira, ao tentar livrar da prisão o seu amante Cigano, paga propina aos carcereiros e não teme as possíveis emboscadas, já que faz parte do jogo: viver ou morrer.
    Toda a tensão do drama é aliviada com doses de humor, principalmente nas cenas em que estão os atores Maciel Silva e Cleber Colombo, que arrancam boas gargalhadas da plateia.
    E assim, ganha vida o texto de Aguinaldo Silva, um dos mais importantes novelistas (Roque Santeiro, Vale Tudo, Tieta, Senhora do Destino), presenteando-nos também com sua contribuição à dramaturgia e sua volta ao teatro resulta em uma super montagem teatral, de seu livro "Lili Carabina, Retrato de uma Obsessão" escrito em 1970, transformado em filme em 1988, estrelado por BETTY FARIA, agora foi adaptado para o teatro por JÚLIO KADETTI.
    Arnaldo D'Ávila e Viviane Araújo (Foto divulgação)
    Com exceção a personagem título interpretada por VIVIANE ARAÚJO, bastante conhecida do grande público, o dramaturgo mostra muita generosidade na escalação do elenco, dando oportunidade para os atores paulistas mostrarem os seus talentos, pois dispensou estrelas da TV para os demais papéis, já que conseguiria quem ele quisesse, dada a sua importância e penetração no meio televisivo. No palco, vê-se muita diversidade nos tipos, fazendo jus a uma escolha certeira, alguns já consagrados no teatro e outros jovens atores em início de carreira, são eles: Alex Gruli, Cleber Colombo, Higor Vasconcellos, Maciel Silva, Mateus Carrieri, Arnaldo D’Ávila, Yuri Martins, Fernando Neves e Leoncio Moura. VIVIANE ARAÚJO veio somar-se muito bem aos seus parceiros de cena, ela tem todos os atributos que a personagem exige, ou seja, garra, atitude, beleza, ousadia e sensualidade, com uma entrega perfeita no desempenho dessa bandida guerreira.
    A adaptação do texto é corretíssima na concepção aristotélica. O tom de jornalismo policial mostra algo em comum com Nelson Rodrigues e nota-se essa referência ‘rodrigueana’ principalmente na forma da narrativa. A direção de DANIEL LOPES conduziu a montagem com maestria, valorizando os atores, pontuando os diálogos na ação dramática, com os conflitos bem resolvidos com precisão cirúrgica.
    Não poderia deixar de ressaltar as lutas cênicas, desenhadas por LUIS LOUIS, que merecem um aplauso especial, pois parecem muito reais, causando inclusive intervenção dos espectadores, que reagem junto com os golpes.
    Enfim, tudo com acabamento perfeito, sendo o espetáculo um presente para os palcos paulistas.

    SERVICO - Sexta 21h30min, sábado 21h, Dom 19h – Teatro Jaraguá – Rua Martins Fontes, 71, fone: 3255-4380 – 80 min. Até 26/11/2017. Ingressos: R$70,00 a R$80,00


BERTOLEZA

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