quinta-feira, 6 de setembro de 2018

LUZ DEL FUEGO

Pedro Cosmos

Depois da bem sucedida montagem de LILI CARABINA, o autor JULIO KADETTI, emplaca outro épico. Dessa vez, traz LUZ DEL FUEGO, com narrativa vinda em boa hora para dialogar com o atual momento político  e social brasileiro. 

Luz Del Fuego foi uma das vedetes mais conhecidas do teatro de revista dos anos 50, famosa por dançar enrolada com cobras, ser uma das precursoras do naturismo no Brasil contrariando toda a sociedade, envolveu-se politicamente batalhando pelos direitos das mulheres, ou seja, uma mulher aquém do tempo que enxergava a liberdade de expressão como fundamental na sua vida, extinguindo toda e qualquer forma de convenções. Era totalmente contrária a vida pacata que levava diante da família e se sentir sufocada diante da religiosidade não cabia para uma artista que pensava a liberdade em todos os seguimentos como fundamental. A ruptura foi súbita e ao ser internada como louca, deixou Belo Horizonte fugindo para o Rio de Janeiro, aonde alcançou o estrelato. De família influente, era perseguida inclusive pelos familiares, que envolta da política, a carreira dela poderia ser negativa a imagem do irmão senador. Também muito perseguida pela polícia, já que praticava atentado ao pudor e aos bons costumes. A artista enfrentava sem medo, mas acabou aceitando a chantagens do irmão para sumir de vez da vida dele. 
Apesar da popularidade de seus espetáculos, a artista sofreu dificuldades financeiras em seus últimos anos de vida. A artista foi assassinada, juntamente com o seu caseiro. Há boatos que tenha sido por dois pescadores na Ilha que ela batizara de Ilha do Sol. (19 de julho de 1967). Seu corpo foi lançado ao mar, e recuperado no mês seguinte.

Para viver a personagem título, a produção de LUZ DEL FUEGO generosamente apostou todas as fichas em uma personalidade que tem muito em comum com a homenageada. Caiu muito bem a escolha de RITA CADILLAC, pela ruptura de convenções sociais, não se prendendo a hipocrisias e enxergando nela uma cidadã politizada, corajosa e engajada na sociedade no que diz respeito às mulheres, revezando o papel com a atriz ELISA ROMERO que faz a personagem na fase jovem. Rita é grata pela confiança depositada, sabendo da responsabilidade que é pisar nos palcos como atriz.

Elisa Romero e Rita Cadillac - Foto: Marcelo Focoimage
ELISA ROMERO está livre, leve e solta no papel, apesar de ser a primeira peça profissional percebe-se muito preparo, carisma e excelente desempenho corporal, jogando muito bem em uma personagem que ressalta ousadia, além de exigir um preparo excepcional. A moça tem talento e muita contribuição dará ao teatro paulista.

ANA SAGUIA, escolha perfeita para viver a mãe de Luz dá um show de interpretação. Sua personagem está irretocável.

A direção ficou a cargo de MACIEL SILVA, tendo como assistente de direção GEORGINA CASTRO. Maciel acumula a função de ator interpretando a travesti Jojô, se mostrando um excelente comediante, sua personagem está muito bem construída e seus diálogos são ricos em ação dramática, parece ter sido escrito pensando nele, se encontrando desprovido de todos os pudores em um papel que é destaque, elevando a comédia no espetáculo. O artista joga muito bem com o experiente parceiro de cena ARNALDO D`AVILA,  o qual vive o Senador, que como nos contos de fadas é uma espécie de ajuda mágica para Luz, utilizando seu poder politico a salva da prisão, ordenando ao Delegado (VITOR WAGNER) que seja cauteloso e, além de libertá-la, a proteja.

O elenco conta ainda com ARNALDO GIANNA, CLEBER COLOMBO, que capricha na comicidade, LEONCIO MOURA, LETYCIA MARTINS E YURI MARTINS. O novelista Aguinaldo Silva surge em áudio. Parte do elenco e demais profissionais participaram de Lili Carabina o que deixa o núcleo bem familiar e com ares de Cia.

SERVICO - TEATRO JARAGUÁ – Rua Martins Fontes, 71, região central - fone: 3255-4380 – sábado 21h, Dom 21h. 90 min. Até 21/10. Ingresso: 60,00 a 80,00. 16 anos.

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