sexta-feira, 27 de setembro de 2019


Pedro Cosmos

O texto de HERON CORTIZO, o qual mostra por meio de pesquisa os fatos históricos do Brasil, faz a plateia rir, enquanto viaja pela linha do tempo fazendo um resgate ao passado e principalmente pelos atores MARCELO GONÇALVES (Zé Diogenes), JUAN RANGEL, JOÃO PEDRO UVO E ARIEL NOVAIS, que se reversam no papel de Dom Pedro I, pois ao falar de assunto sério, ressaltando didatismo, vê-se ainda uma forma que corrobora com o aprendizado que é usar o teatro como ferramenta nesse processo. Pois cativam a plateia com muito carisma, promovendo muita interação e com improvisos pertinentes à atualidade.


                                                                                          Foto: Divulgação

A narrativa caminha pela história do catador de latinhas Zé Diógenes, que largou a função de professor por se sentir desmotivado em decorrência dos rumos e o descaso que a educação tomou nos últimos tempos. Mostrando-se invisível diante da sociedade, em meio a sua nova função, encontra o fantasma de D. Pedro I e muito bate papo sobre a história do Brasil indo do descobrimento até os dias atuais, vem à tona de maneira cômica, remetendo-nos os fatos históricos passados, contextualizados com o presente, em meio as aventuras do Imperador, que desconhece sua própria história, diante do catador de lixo.
                                                                                     Foto: Divulgação
Como parte da cenografia, veem-se projeções ilustrando várias passagens, seguindo a própria linha do tempo, sendo uma aula aberta, fazendo a plateia rememorar e se atualizar de muitas informações.

O diretor ADRIANO KLINGELBT imprimiu ritmo ao espetáculo, deixando com muita leveza, deixou os atores se sentirem livres em cena e o que poderia ser piegas, veio ao encontro de um teatro prazeroso, que muito contemplou os espectadores de plantão.

A produtora CENA ABERTA, a frente da montagem, sobretudo o seu produtor executivo MURILO FERREIRA, usa a linguagem teatral como ferramenta a promover conhecimento por meio de ludicidade. Segundo ele, o “teatro pode agregar valor educacional de maneira divertida, uma vez que a informação associada aos sentimentos positivos é fixada mais facilmente na mente das pessoas”.Na sua equipe de criadores tem profissionais de várias áreas, muito bem sucedido e a intenção maior é vê o teatro envolvendo cada vez mais as gerações futuras.

Vale a pena prestigiar, fazer parte do resgate histórico, indicando ainda para as escolas de todas as esferas, por somar cultura, educação e entretenimento ao mesmo tempo.

SERVIÇO - TEATRO BTC - Rua Santa Cruz, 2105 – Saúde - SP (Metrô Alto do Ipiranga) De 4/08 a 23/09/18. Sábados e domingos, às 21 lugares. Duração: 50 minutos. Classificação: Livre. Ingressos: R$ 40,00. A partir de 07/09/19.

terça-feira, 24 de setembro de 2019


Pedro Cosmos

FLORESTA DOS MISTÉRIOS
Enquanto a prefeita da cidade fictícia quer destruir toda a floresta para construir seu império, ou seja, trazer a tecnologia para o local, as crianças buscam mecanismos para a sobrevivência do ambiente e a ajuda mágica (Saci Pererê, a Sereia Iara, o Boitatá e a cobra de fogo) aparece corroborando para que elas sejam vitoriosas.  
O texto escrito, dirigido e idealizado por MÁRCIO ARAÚJO, em cartaz no teatro Alfa agrada em tudo. A montagem virou um espetáculo necessário a infância, agradando também os adultos justamente pela principal contrapartida que é permitir que pessoas com deficiência fossem contempladas, valorizadas e representadas por meio de muita transformação social.
A montagem conta com músicas autorais, cantadas ao vivo, feitas em parceria do autor com TATO FISCHER, mostrando a beleza do folclore e a preservação da natureza, como num bom conto de fada, ressaltando o bem em detrimento do mal.
Com elenco de atores e manipuladores muito talentosos CLAYTON BONARDI, DANIEL COSTA, DANIELA SCHITINI, DÉBORA VIVAN, MARIZILDA ROSA, MATEUS MENEZES, WESLEY LEAL, promovendo muito humor, encanto, leveza, muita poesia e bonecos (MÁRCIO PONTES) que se fazem vivos diante da narrativa, é perceptível muita animação, ludicidade e fruição nos pequeninos de plantão.

                                                                                 Foto: Divulgação
As crianças da história encontram os seres mitológicos do folclore brasileiro e as ações são desenvolvidas de maneira muito envolvente com toque de classe e evidentemente, muita torcida de todos os espectadores.
Vale a pena levar a criançada para curtir as aventuras que essa turminha promove e se encantar com tudo o que o teatro apresenta.
SERVIÇO - TEATRO ALFA - Rua Bento Branco de Andrade Filho, 722, tel. (11) 5693-4000. De 4/08 a 23/09/18. Sábados e domingos, às 16h. 204 lugares. Duração: 50 minutos. Classificação: Livre. Ingressos: R$ 30,00. De 07/09 a 20/10/19.

segunda-feira, 23 de setembro de 2019


Pedro Cosmos

DONA IVONE LARA – UM SORRISO NEGRO


Pedro Cosmos

DONA IVONE LARA – UM SORRISO NEGRO

Depois de temporada de sucesso de crítica e público e no teatro Carlos Gomes no Rio, o espetáculo musical DONA IVONE LARA – UM SORRISO NEGRO – com texto muito bem escrito e pesquisado de ALOÍSIO LOPES, chega à capital paulista e o sucesso não poderia ser diferente.

Não teria maneira melhor de reverenciar a sambista a não ser da forma que está sendo feita. A sua biografia nos palcos é um sopro na superação, na garra, no enfrentamento humano de uma mulher que se formou em assistência social, tendo a música como alimento de sua alma. Mãe, dona de casa, negra, pobre, fora dos padrões impostos de beleza pela sociedade hipócrita, sua resistência no próprio lar, a reversão de papéis dentro de casa, além da censura da arte em detrimento a sua cor, sendo uma grande ascensão do negro no mundo das artes.


As atrizes HELOISA JORGE, FERNANDA JACOB e DI RIBEIRO se reversam na personagem, vivendo vários momentos da vida da cantora, mesclando em alguns flashbacks da vida da artista, forma essa que corrobora muito bem para contextualizar as ações dramáticas, com interpretações brilhantes.



                                                                            Fotografia: Priscila Prade

A montagem idealizada por Jô Santana é muito bem cuidada e o elenco composto por artistas negro (ANDRE MUATO, BRUNO QUIXOTTE, BELIZE POMBAL, BETO METTIG, DI RIBEIRO, DIOGO LOPES FILHO, JEFF PEREIRA, FELIPE ADETOKUNBO, FERNANDA JACOB, FERNANDA CASCARDO, FERNANDA VENTURA, FELIPE GOMES MOREIRA, FRANCISCO SALGADO, FLAVIA SOUZA, GUILHERME SILVA, HELOISA JORGE, HUGO GERMANO, LARISSA NOEL, LARISSA CARNEIRO, NARA COUTO, PEDRO CAETANO, RAFAEL LEAL, SYLVIA NAZARETH, UDYLÊ PROCÓPIO), exaltando talento a flor da pele é o ponto forte. Eles cantam, dançam, interpretam e o gingado no samba já nasce com eles.

O teatro lotando sempre mostra que quando o negro se sente representado ele se faz presente nos ambientes provedores de cultura. Assim como foi relevante para o nosso teatro, a montagem anterior CARTOLA – O MUNDO É UM MOINHO, Jô tem mostrado que brasileiro também pode fazer musical e o resultado pode ser conferido como de extrema qualidade.
Músicas como: acreditar, sonho meu, nasci para sonhar e cantar faz parte do musical com novos arranjos na linha dançante e com mais possibilidade coreográfica.

SERVIÇO - TEATRO SÉRGIO CARDOSO, 153, fone: 3288-0136 – Quinta a sábado às 20h.  Domingo - às 17h. Ingresso: 40,00 a 150,00.  De 29/08 até 20/10/19.




sexta-feira, 20 de setembro de 2019


Pedro Cosmos

CRIMES DELICADOS

Com elenco todo masculino, o texto do saudoso JOSÉ ANTÔNIO SOUZA, escrito em 1970, o qual teve sua primeira montagem dirigida por ANTONIO ABUJANRA chega ao palco paulistano, após temporada no Rio de Janeiro.

O dramaturgo que muito contribuiu com sua dramaturgia ao teatro brasileiro nos deixou recentemente, mas seus bons textos o fará sempre vivo, por serem primorosos e terem  a carpintaria necessária para um bom teatro.

Para a temporada em São Paulo, o ator DANIEL DANTAS assume a personagem chave do enredo. Ele dá vida a empregada Efigênia, que em meio as suas trapalhadas e sonsices, rouba a cena ao se mostrar imortal. ANDRÉ JUNQUEIRA (Lila) WELL AGUIAR (André) formam o casal, munidos de muita cumplicidade e algumas trapalhadas, vivem em fúria com o fracasso de suas tentativas frustradas.


CRIMES DELICADOS, continua atual, apresenta uma mistura de humor, suspense, drama, cumplicidade, e em suma, é um texto muito inteligente.

A direção de MARCUS ALVISI, é irretocável. Os atores com suas personagens muito bem construídas, sem estereótipos, apresentando estética surrealista, tem muito domínio de palco, empatia com a plateia e o resultado é plausível. Segundo ele “o texto é atemporal e fala sobre o poder e, principalmente, o abuso que o casal faz dele sentindo-se impune no sentido absoluto do termo. Parece uma temática interminável. Uma comédia vertiginosa sobre a manipulação do poder em seus meandros mais obscuros. Inclusive o poder de matar. Entretanto, paradoxalmente, trata-se de um texto solar”.

SERVIÇO – TEATRO RAUL CORTEZ - Rua Dr. Plínio Barreto, 285, Bela Vista – 3254-1631 – Sábado 18h. Domingo: 16h. Ingresso: 70,00. De 07/09 a 29/09/19. Duração: 70 minutos. Classificação: 14 anos.


quinta-feira, 19 de setembro de 2019





CASA DE BRINQUEDOS

Depois de passar por várias cidades brasileiras, chega a São Paulo, o espetáculo musical CASA DE BRINQUEDOS, inspirado nas músicas de TOQUINHO e MUTINHO especificamente no álbum de mesmo nome, lançado em 1983, reunindo canções sobre brinquedos que ganham vida própria por meio das vozes de Toquinho e outros  intérpretes da música brasileira, como Simone, Tom Zé, Chico Buarque, Baby Consuelo, Roupa Nova, dentre outros.

Escrito e dirigido brilhantemente por CARLA CANDIOTTO, artista com grande conhecimento no teatro para infância e juventude, aliás, em todos os segmentos, deixou a montagem irretocável, resumindo, em puro encanto.

Acompanhada por uma grande equipe de criadores: DANIEL TAUSZIG (direção musical e arranjos), KLEBER MONTANHEIRO (cenário e figurino), WAGNER FREIRE (iluminação), e um elenco de atores jovens e experientes com talento na voz, na dança e na arte de interpretar: BEL NOBRE, CAIO MERSEGUEL, CAROLINA ROCHA, PEDRO ARRAIS, EDUARDO LEÃO, FLÁVIA STRONGOLLI, GABRIEL EBLING E ADRIANO TUNES, sem sombra de dúvida é a grande promessa da temporada..


A montagem espetacular agrada potencialmente baixinhos e altinhos, tanto pela beleza das canções, quanto pela narrativa contextualizada com os contos de fadas inserida no bem e o mal com maestria, trazendo à tona o resgate a memória por meio das lindas canções que marcaram época e que se fazem conhecidas no âmbito escolar das crianças e evidentemente por influencia dos pais preocupados em promover o melhor da cultura musical para os seus pupilos.


O Caderno, A Bailarina, O Robô e Aquarela estão dentre as canções para o nosso deleite, com coreografias funcionais e interpretação contagiante.

Segundo Carla Candiotto ”É a história de um adulto que perde o prazer de viver e só pensa em ganhar dinheiro. Quando se lembra de seu passado e se conecta com sua infância, muda a sua forma de ver o mundo. Toda essa metáfora fala sobre a memória dos brinquedos da nossa infância. Somos feitos de nosso passado”.

Em fim é um espetáculo para ser visto em família e deixar desabrochar as emoções.

Fotos: Priscila Prade

SERVIÇO – TEATRO FREI CANECA - Shopping Frei Caneca - R. Frei Caneca, 569 - Consolação, tel.: 3472-2229 – Sábado às 16h e domingo: 15h. Ingresso: 80,00. De 14/09 a 27/10. Duração: 60 minutos.






Pedro Cosmos

VOLTAIRE ROUSSEAU

O texto de JEAN-FRANÇOIS PRÉVAND, dirigido por LIGIA PEREIRA, Em cartaz no teatro Sérgio Cardoso, nos presenteia com divergências de ideias. A dramaturgia é permeada pelo embate filosófico de VOLTAIRE e ROUSSEAU, apresentando o contraste em seus pontos de vista, fazendo-nos tomar partido entre o pensamento de um em detrimento do outro, sem, contudo, chegarmos a uma conclusão.

Voltaire conhecia a elite e pensar a democracia, a liberdade de expressão, enxergar o outro na sua totalidade e como sujeito de direito era um entrave enquanto que Rousseau era totalmente o oposto, evidentemente a discordância, ou choque de ideias eram dissonantes.  Ele odiava a ideia dos bons modos; em vez disso, queria um modo popular direto de interação social, nesse ínterim vê-se contrariedades no campo das artes, das ciências, estabelecendo  dúvidas de “um vir a ser”.
Nesse jogo, dois grandes atores MARCELO ANDRADE e WASHINGTON LUIZ GONZALES, dão conta do recado, apresentando excelentes interpretações, transitando entre o humor e o sarcasmo, muito bem dirigidos, se sentindo livres, leves e soltos, ressaltando carisma e domínio de palco, levando-nos a embarcar nas ideias e ideais, e em um duelo perfeito de ideologias fazem-nos pensar que não existe verdade absoluta, assim como temos as nossas diferenças em todas as especificidades, os grandes pensadores, não eram diferentes.


O enredo se passa no ano de 1765, quando Jean Jacques Rousseau tem sua moral ameaçada após um panfleto anônimo ser divulgado alegando que ele teria abandonado seus cinco filhos. Em razão disso, Rousseau busca Voltaire para ajudá-lo a descobrir a autoria dessa difamação. Os dois filósofos confrontam suas ideias sobre Deus, as ciências e as artes, enquanto desvendam o crime.
Sem didatismo, se mostrando estritamente teatral, não deixa de apresentar bons conhecimentos, reflexões, tomar partido, nos inserir na visão iluminista, nos transportar para conhecimento socializado graças aos ideais iluministas e nesse embate entre a razão e emoção ou coisa que mo valha o ideal é imaginar que a única certeza nisso tudo é a dúvida e que nos resta é pegar o final da história e seguir adiante.

SERVIÇO - TEATRO SÉRGIO CARDOSO – SALA PASCOAL CARLOS MAGNO – Rua Rui Barbosa, 153, Bela Vista - Fone: 3288-0136 – Sexta e Sábado às 19h. Domingos  e segundas às 20h.  Ingresso: 40,00. A partir de 12 anos. Duração50 minutos. De 06/09 a 13/10/19.

segunda-feira, 9 de setembro de 2019


Pedro Cosmos

À SOMBRA DOS OUTROS

Monólogo estrelado pelo ator, autor, comediante e pensante PEDRO CARDOSO é inspirado na rede social, com textos reunidos dos aclamados posts de próprio artista e discussões com seus mais de 200 mil seguidores nas redes sociais (um feed, espontâneo e gerido pelo próprio Pedro). São personagens que Pedro já fez e outros inéditos, numa colcha de retalhos interativa com a plateia, questionando todas as vertentes políticas.
Pontuado com recursos híbridos, trilha e projeção videográfica dando um up grade nas mudanças de cena, ou seja, a transposição de novas ideias e também mudança de personagem, Pedro apresenta seu monólogo inteligente, durante 1 hora, dividido em cenas com viés políticos e sociológicos, sem ferir em hipótese alguma, as ideologias, objetivando o humor inteligente, com caracterizações perfeitas.

Com muito carisma, empoderamento com a plateia, o artista cativa e tem o domínio da situação, excluindo qualquer tentativa de postar o espectador em situação de constrangimento, ressaltando em seu jogo, um monólogo de classe. As cenas centro, direita, esquerda, nos transportam para duplicidade de interpretações, fazendo-nos refletir se fazemos parte daquele contexto, se nos identificamos com algumas daquelas personagens, ressaltando a única certeza que é a dúvida.

A cena “invisível” ressalta grande contrapartida social com a classe artística, o RAP apresentado faz surgir um momento poético impar e uma homenagem aos grandes artistas brasileiros e internacionais, mostra um momento histórico, cabível de grandes reparações... E que a cultura precisa ser enxergada como fundamental à cidadania.

Vale apena ser prestigiado!

Foto divulgação: Tiago Costa

SERVIÇO – TEATRO MORUMBI SHOPPING – Av. Roque Petroni Júnior, 1089, tel.: 5183-2800 – 250 lugares – Quinta às 21h. Ingresso: 50,00. De 05/09 a 03/10/19.



Pedro Cosmos

TATIANICES 

Com dramaturgia de MARCELLO AIROLDI e direção de ANDRÉ CAPUANO – o espetáculo comemora o centenário da autora TATIANA BELINKY, (1919-2013) sendo uma  justa homenagem a autora que teve grande contrapartida social com a criança, apresentando em seus livros, estórias, contos, parlendas, adivinhas, fábulas, dentre outros gêneros literários, permeando sempre o universo infantil, com muito respeito e cuidados necessário a capacidade leitora da criança e a sua integralidade, e sem nenhuma dúvida, a fruição.

Em suas obras, é perceptivel o olhar da criança que ela nutria, a musicalidade, a poesia e tudo o que ela promovia para conhecimento significativo das crianças, inspiração para educadores e arte educadores, sempre em consonância com a cultura e educação.

A homenagem vinda de um grupo de artistas criadores brilhantes, unidos a outros fazedores do pensar teatro para crianças, unindo ao conhecimento que estes tinha potencialmente da autora e de seu universo é realmente meritória de ser contemplad pelo prêmio Zé Renato em sua 8ª edição. Aliás foi é um acerto, visto que o teatro para criança precisa ser enxergado pelas comissões, como fundamental na formação de plateia e na continuidade do teatro, cabendo aqui os parabéns a dupla DEBORAH CORRÊA E ELDER FRAGA pela concepção do espetáculo e pela idealização.

O elenco composto por JOAZ CAMPOS, RITA GUTT, ANDRÉ PEREIRA GABRIEL IVANOFF, mostra boas interpretações da trupe, afinados com as canções (músicas originais de Joaz Campos) executadas ao vivo, as interações um com o outro,  muito envolvimento, cumplicidade, conhecimento na manipulação de bonecos e no fazer teatral voltado para a criança e juventude, os quais promovem um  espetáculo plausível.




                                                                                        Foto: Bob Sousa

Em resumo, é uma “espécie de peça-festa” promovendo o encontro entre Tatiana criança, recém-chegada ao Brasil e a Tatiana adulta, prestes a publicar seu primeiro livro. Para que isso aconteça, entra em cena um ser chamado Atemporal, personagem criado pela autora em um de seus livros, que é capaz de ultrapassar as barreiras do tempo.

Segundo o autor Marcello Airoldi “Escrever um texto para o público infantojuvenil sobre Tatiana Belinky é tão desafiador quanto prazeroso. Certamente ela é uma das autoras mais importantes desse país e sua obra influenciou um sem número de pessoas interessadas na literatura para crianças e jovens”.

Enfim, vale a pena ser vista a montagem e  com o olhar da criança, se transportar para o universo lúdico, se permitindo deixar fruir por toda ludicidade que o espetáculo promove.

SERVIÇO - TEATRO SÉRGIO CARDOSO – Sala Pascoal Carlos magno, 153, Bela Vista - Fone: 3288-0136 – Sábado às 15h e domingos às 16h.  Ingresso: 20,00. A partir de 4 anos. Duração: 50 minutos. De 07/09 a 13/10/19.

segunda-feira, 2 de setembro de 2019



BARRELA

Plínio Marcos (1935-1999), um dos mais importantes dramaturgos brasileiros, autor de inúmeras peças de teatro, escritas em sua maioria na época do regime militar, se mostra atual pela forte narrativa a qual o ser humano se mostra por inteiro, sem máscaras, expondo suas verdades e apontando pontos de vista da sociedade que esbarra em debate e reflexão diversa, em sua maioria, mostra uma sociedade que a “sociedade” ignora ou finge desconhecer. Seus textos levam os atores a pesquisar o submundo e se entender como “gente” em um ambiente aonde o lema é “sobreviva se puder”.

BARRELA, primeira peça escrita por Plínio em 1958, inspirada na história de um garoto de Santos que foi preso e violentado na cela, tendo que aceitar acordos estipulados para a sua convivência, ganha montagem dirigida pelo ator e dramaturgo MÁRIO BORTOLOTTO, a frente do seu notório grupo CEMITÉRIO DE AUTOMÓVEIS, que presta uma justa homenagem aos 20 anos da morte de Plínio. Homenagem louvável e meritória ao dramaturgo e vinda do Mário é mais do que acertada, pois ambos compartilham em suas obras o mesmo universo urbano e violento.

                               

Confinados no submundo do crime, os atores MÁRIO BORTOLOTTO, WALTER FIGUEIREDO, MARCOS GOMES, NELSON PERES, PAULO JORDÃO (RODRIGO CORDEIRO), ANDRÉ CECCATO (MARCOS AMARAL), DANIEL SATO E ALEXANDRE TIGANO, dando vida às personagens, os quais vivem a narrativa nua, crua e assustadora, entre trancos e barrancos, revelando elementos intrínsecos desses marginais, os quais se excluem de qualquer transformação social, de reflexão, pois o que impregna no ambiente é o individualismo.



Bereco, interpretado pelo Bortolotto é o xerife da cadeia, sua autoridade é ameaçada, fatos revelados, jura de vingança, e diante de tantos homens famintos sexualmente, o desejo pela prenda nova na cela extrapola o seu poder e a violência é apresentada.

Segundo Bortolotto, “Plínio foi um dos primeiros autores de teatro brasileiro que eu conheci, ainda garoto. Para mim sempre foi impactante o jeito cru que ele escrevia suas peças, sem firulas, indo direto ao ponto, pegando pesado, sem dar trégua ao espectador. Acho que tudo tem seu momento. Não calhou antes de eu conseguir encenar nada dele. Aconteceu agora e está sendo ótimo. “Barrela” ainda é a peça que eu mais gosto do Plínio”.

Portanto, vale a pena ser prestigiado, tanto pelo Plínio, quanto pelo trabalho que o CEMITÉRIO DE AUTOMÓVEIS promove na cidade de São Paulo com o seu teatro necessário, de resistência e feito com maestria entre amigos.

Fotos: Lucas Mayor

SERVIÇO - CEMITÉRIO DE AUTOMÓVEIS: Rua Frei Caneca, 384. Tel.: (11) 2371-5743- Sexta e sábado às 21h e domingo às 20h. Ingressos: R$ 40,00. Duração: 60 min. Classificação: 16 anos. Temporada: 30/08 a 27/10/19.