segunda-feira, 30 de julho de 2018

ELES NÃO USAM BLACK TIE

Pedro Cosmos


O teatro brasileiro deve muito a GIANFRANCESCO GUARNIERI  pela contribuição e toda a sua contrapartida social. Autor de Arena Conta Zumbi, Arena Conta Tiradentes, Castro Alves Pede Passagem, Um Grito Parado no Ar, Gimba, A semente, Luta Secreta de Maria da Encarnação, dentre outros relevantes textos, os quais tocam profundamente pelos fortes diálogos, a sensibilidade, a construção de um olhar cidadão como um todo, em fim, por nos levar a refletir, debater e pela investigação apresentada.
ELES NÃO USAM BLACK TIE”, escrito em 1958, tem todas essas ferramentas. Texto que consagrou a carreira de Guarnieri como dramaturgo, sua construção é perfeito, tem tudo o que indica uma correta dramaturgia, ou seja, bons conflitos e ideia central. O texto revela o encorajamento dos trabalhadores e a força que estes têm. Inserido em questões políticas, contendo conflitos gerados a partir das relações familiares: gravidez, casamento, educação e religião, a moral, os valores, o trabalho, companheirismo e ainda uma história de amor, sem pieguices. Todas essas ferramentas corroboram para que tudo permaneça muito atual, instigando curiosidade a cada nova montagem. Em resumo, é um texto muito rico em todos os sentidos, postado em um dos mais importantes da dramaturgia nacional.

Dan Rosseto, adaptador e diretor da nova montagem em cartaz no Teatro Aliança Francesa, imprimiu seu toque pessoal, deixando tudo com muito bom gosto, resultando em um espetáculo irretocável, unindo a comédia ao drama sem perder a classe, respeitando a proposta original. O tom cômico promovido deixou o espetáculo leve, principalmente quando a comédia é centrada na personagem mais humanizada, a dona de casa e mãe de família “Romana” interpretada brilhantemente pela atriz TECA PEREIRA. Seu texto falado no momento certo, com muita naturalidade e pausas precisas são plausíveis. O casal vivido por KIKO PISSOLATO (Tião) E PALOMA BERNARDI (Maria), dá conta do recado. Paloma é surpreendente e muito bem vinda nova linguagem. Em fim todo o elenco: ADILSON AZEVEDO (Otávio), CAMILA BRANDÃO (Terezinha), CAROLINA STOFELLA (Dalva), PABLO DIEGO GARCIA (João), PAULO GABRIEL (Jesuíno), SAMUEL CARRASCO (Chiquinho) e TIAGO REAL (Braúlio), se encontra impecável em um jogo o qual o ganhador é o espectador.
  
FotoNatalia Angelieri
Tudo começa com a organização de uma greve objetivando melhores condições de trabalho, sendo perceptível o envolvimento de todos, com exceção de Tião, que por motivos particulares e egoísmo, acaba furando a greve, pagando um alto preço. Sua traição é imperdoável, gerando muitos dissabores, dentre eles a solidão e o abandono de todos. A Mãe é uma personagem fundamental na história, embora tenha sido massacrada pela vida, sua sapiência seduz a todos.

FotoNatalia Angelieri
É uma produção muito bem cuidada (FABIO CAMARA) e vale a pena ser conferida, pela garra dos atores e toda equipe envolvida, pela valorização da dramaturgia nacional e por ser teatro de qualidade, feito com qualidade. VIVA GUARNIERI.

SERVIÇO – Teatro Aliança Francesa – Rua General Jardim, 182, Vila Buarque – Fone: 3572-2379. Sexta e Sábado 20h30 e Domingo 19h – Ingressos: 60,00. De 20/07 até 16/09/2018. Duração. 90 min. Classificação: 12 anos


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