segunda-feira, 18 de junho de 2018

A BELA E A FERA

Pedro Cosmos

Inspirado no conto da Dama de Villeneuve, em 1740, tornando-se popular por meio da versão de Jeanne-Marie LePrince de Beaumont em 1756, a narrativa gira em torno da maldição lançada à Fera, por ter se negado ajudar uma mendiga, e sobre a vida da jovem Bela e os caminhos que ela tem a seguir, que, diferente das irmãs, não se afasta do pai por este ter perdido a fortuna e aceita a nova situação de vida ficando ao lado dele. Quando atende ao pedido da filha, pegando uma rosa para presenteá-la, é surpreendido pela Fera. Ao saber da prisão e o perigo que seu pai corre no castelo, a moça se oferece para ficar em seu lugar, temendo pela saúde do pobre velhinho. No castelo, todos se encantam com a moça humilde e cheia de gentileza no trato com as pessoas, torcendo para que ela traga poesia ao coração da Fera. Bela enfrenta a missão de lidar com a fera perigosa, desprovida de bons modos, sendo avessa a tudo a que se refere à bondade, usufruindo da solidão e mau humor como companhia, no entanto, bons momentos acontecem transformando a Fera aos poucos em um ser sensível e amável, dando vazão ao amor.
Foto: Claudinei Nakasone
Tradicionalmente, as montagens de “A Bela e a Fera” não passam de um recorte do filme da Walt Disney, com roupas e cenários extravagantes, irmãs se digladiando em torno do bonitão Gaston, sobressaindo o espetacular. ELOÍSA VITZ, diretora e adaptadora do conto de fadas, apresenta o diferencial em sua concepção e dramaturgia, resultando em uma versão inteligente e totalmente contemporânea, com narrativa focada na interpretação dos atores, ações diretas, excluindo as mesmices.
O grupo Gattu tem bons atores e o profissionalismo é incontestável: MIRIAM JARDIM, DANIEL GONZALES, LAURA VIDOTTO, CLAUDINEI NAKASONE, JAILTON NUNES, LÍLIAN PERES, MARIANA FIDELIS, RODRIGO VICENZO, fazendo tudo muito bem feito e com classe, dispensando aqui imprimir comentários individuais sobre suas interpretações. O ambiente já começa a ser acolhedor na chegada. Puro encanto. Prestigiar o trabalho dessa equipe se faz necessário a todos os amantes de um bom teatro.
Foto: Claudinei Nakasone
De súbito, o espectador é pego de surpresa com a trilha sonora apresentada: Rock, com direito a eletrônica, extinguindo a música carro chefe A Bela e a Fera / Beauty And The Beast”, o humor presente na personagem Fifi (MÍRIAM JARDIM) com seu sotaque francês muito bem construído e compreensível deixando o espetáculo mais prazeroso e um Gaston (JAILTON NUNES) intitulado patrãozinho, muito narcisista, com “fisic du role” fora dos padrões americanizados, fazem a diferença, pelo carisma e entrega as personagens. São perceptíveis muitos valores embutidos, inclusive sobre a questão do narcisismo, o feio e o belo, os quais estão postos em discussão, cabendo reflexões diversas, e sem didatismo e pieguices, sobressai um bom teatro e uma proposta plausível.
SERVIÇO – TEATRO DO SOL – Rua Damiana da cunha, 413, Santana – Tel.: 3791-2023 - Sábado e domingo: 16h. Entrada Franca.



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