segunda-feira, 15 de julho de 2019



Pedro Cosmos

CONECTADOS

O espetáculo musical CONECTADOS, dirigido por HUDSON GLAUBER, tem bom ritmo, direção acertada e uma galera talentosa com muito gás para queimar no teatro. Cantam, dançam, interpretam.

O diretor musical THIAGO GIMENES, fez a garotada soltar a voz em um espetáculo feito por jovens para jovens. A começar pelo elenco contendo sete jovens atores: LUCKAS MOURAGABRIEL MOURAVICKY VALENTIMGIULIA AYUMICAROL AMARALDORGIVAL JÚNIOR E MADU ARAÚJO.


                                             Foto: Kelson Spalato e Woodstock Produtora

Estes jovens, em meio à suas intempéries estão em volto das suas buscas, seus anseios, das suas diferenças em todas as especificidades, vivendo os conflitos intrínsecos e a firmação de sua identidade. Jovens que precisam fazer a transportação para a realidade, saindo um pouco do mundo virtual.

A dramaturgia foi criada por ALEXANDRA GARNIER a partir de ideias do próprio elenco, resultando em uma ventura musical, na qual os jovens buscam o sucesso, sendo que a conexão entre eles precisa ir bem além da tecnologia.


                                                             Foto: Kelson Spalato e Woodstock Produtora

No enredo, são fissurados pela música e uma audição de um grande concurso, vai ser um trampolim para que eles possam mostrar seus talentos. Entre alguns dissabores, veem-se valores, a falta de comunicação de alguns que se veem em meio ao individualismo e a rebeldia que não corrobora para a formação de verdadeiros cidadãos, no entanto, o desejo de alcançar o seu lugar ao sol se faz presente, sendo um ponto forte.

 A música tem a sua função social no espetáculo, sendo coadjuvante na dramaturgia, variando entre vários ritmos como pop, rock, rap, reggae, sem deixar de fora a tão falada “balada”.

Em fim, o musical encanta os jovens, sendo muito bom nutrir o interesse pelo teatral, sendo indispensável a formação de novas plateias.

SERVIÇO - TEATRO DAS ARTES - Shopping Eldorado - Av. Rebouças, 3970 – 3º Piso – Telefone: (11) 3034-0075. Sábado: 18h. Ingressos: R$ 60,00.  769 lugares. De 06/07 a 31/08/19.  Duração: 60 min. Indicação: 12 anos.




Pedro Cosmos

ATÉ QUE A MORTE NOS SEPARE

A frase célebre tão aguardada nos casamentos “O que Deus uniu o homem não separa” já não tem o mesmo efeito há muitos. Em meio a contemporaneidade ninguém é obrigado a suportar a falta de amor, de companheirismo, e filhos não obrigam mais os casais a permanecerem juntos. A não dependência de um do outro já tira a obrigação de suportar cobras e lagartos. Não existem mais receitas para um casamento duradouro, sem que haja interesse em ambas as partes.

No entanto, a instituição casamento continua muito bem no que depender do casal RITA MALOT e WALMIR SANTANA, intérpretes de Amoreco e Bebê, da comédia romântica musical interpretada pela dupla RITA MALOT e WALMIR SANTANA.

                                                              Foto: Pedro Vasconcellos

O texto de PAULA GIANNINI com direção de AMAURI ERNANI fala um pouco do que é chegar à terceira idade e não deixado à vida passar sem ter aproveitado, ou que chegar aos 60 anos não é se postar diante de uma tragédia. A alegria, o carisma da dupla, a forma como tudo é apresentado é brilhante, vivenciar a cumplicidade do casal, o bom humor, a alegria de viver, em fim, perdura a sensação de que a vida realmente não acaba aos quarenta, essa ideia deve ter realmente ficado nos anos 40.
O casal aos 18 anos propusera que a cada 10 anos, um escrevesse para o outro uma carta com as futuras projeções, tiveram um resultado que não correspondeu à realidade. Pois o que se viu foi que eles resistiram, é um casal aquém do seu tempo, promovendo boas gargalhadas, cantando no karaokê, seguindo coreografias, sem deixar a peteca cair. Nada mais justo do que ter dois grandes motivos para comemorar: 60 anos de idade e 40 anos de casados.

                                                                        Foto: Pedro Vasconcellos

Com muita desenvoltura na dança e um desempenho corporal plausível, RITA E WALMIR, ganham a plateia, fazendo todos embarcarem no seu jogo, pois deixam os casais presentes boquiabertos.
Músicas imortalizadas como “Evidências” e “Escrito nas Estrelas”, além de composições originais criadas especialmente pelo diretor musical SÉRVULO AUGUSTO, trazem um resgate a fortes emoções, e subitamente, a troca de olhares nos casais da plateia promovem a fruição esperada.
Nesse ínterim, entre divertidas discussões sobre amizade, morte, diversão e sexo, o tempo passa deixando no espectador o gosto de quero mais.

Segundo a atriz RITA MALOT, a peça apresenta uma reflexão sobre o processo de envelhecimento populacional mundial. “No espetáculo os personagens aos 18 anos, imaginavam que aos 60 anos seriam dois velhinhos decrépitos, mas os tempos mudaram”. Ao entrar na melhor idade, eles redescobrem o prazer e a vontade de viver demonstrando que a maturidade e o envelhecimento são um novo recomeço e que o sonho ainda não acabou.

SERVIÇO – TEATRO FOLHA Shopping Pátio Higienópolis – Avenida Higienópolis, 618, Terraço, Higienópolis. Tel.: (11) 3823-2323 – quartas e quintas às 21h. Ingressos: R$ 50,00 a 60,00. Até 01/08/19. Duração: 60 minutos. Classificação: 12 anos.


Pedro Cosmos

MADAME SATÃ

A montagem de uma lenda já muito debatida, já vista no cinema, cabe ser revisitada na dramaturgia de MARCOS FÁBIO DE FARIA E RODRIGO JERÔNIMO, que diante de seu empenho e busca para teatralizar um texto biográfico, soube transformar as ações cênicas, com músicas inéditas especialmente compostas, fazendo transposição para a poesia, em meio a toda contrapartida ofertada na encenação.

O Grupo mineiro intitulado GRUPO DOS DEZ, conhecido pelos espetáculos “GALANGA, CHICO REI” e pelo sucesso de crítica e público MADAME SATÃ, dentre outros, se uni a atores paulistas, e nessa junção trazem pela segunda vez a sua pérola maior para os nossos palcos.

O elenco é composto por artistas mineiros e paulistas: BIA NOGUEIRA, TELMA DIAS, TAIGUARA NAZARÉ, CARLA GOMES, ALLYSSON SALVADOR, GABRIEL COUPE, RODRIGO NEGÃO, ESDRAS DE LÚCIA, DRICA FERREIRA,  PEDRO LEAL e outros.

O musical MADAME SATÃ, apresenta inegável contribuição à nossa cultura brasileira e aos palcos paulistas. Um resgate as nossas identidades, tornar visível o invisível, colocar a diversidade promovendo reflexão sobre os seres humanos, a alteridade, a igualdade de gênero pedindo para ser respeitada, mostrando um retrato da homofobia.


Uma proposta para ser enxergada com primor, por dialogar com os menos favorecidos, por sair do lugar comum, ou seja, fora do foco dos padrões europeus, limitando patrocinadores e casas de espetáculos por se tratar de um espetáculo que foge dos padrões “cultura é mercadoria”.
O melhor disso tudo é reencontrar o feito do grande diretor, o saudoso JOÃO DAS NEVES (+2018) que nos deixou sua marca.  Em parceria com Rodrigo Jerônimo, o espetáculo esteve em boas mãos, o olhar dos diretores, juntamente com o talento de toda a equipe deixou a montagem irretocável, poética, valorizando os atores com suas personagens e habilidades, completos por usarem instrumentos, o canto, a dança e a representação.


A trupe inicia a representação na rua, uma maneira muito acertada de iniciar o espetáculo, já mostrando de cara a ideia central, visto que contextualiza com a realidade, travestis no ponto, mulheres prostitutas em disputa pelo território, culminando com o assassinato de um dos profissionais da noite, por um motoqueiro, o qual acaba ficando impune, invisível, diante de todos os presentes.

Em sua narrativa, a triste história de MADAME SATÃ, (João Francisco dos Santos) transformista negro, nordestino e homossexual. No Bairro da Lapa – Rio de Janeiro. Revezando entre três atores, Satã se mostra guerreiro ao enfrentar o abuso de poder da polícia, do seu desrespeito, a homofobia explícita, a forma de constrangimento de toda natureza, a qual reduzindo a pó os homossexuais e travestis. O Capoeirista não se curvava e não se contentava por se vir tratado como marginal, e nem por presenciar o assassinando de muitos dos seus colegas. Em fim, relata a realidade nua e crua, o sofrimentos desses sujeitos que sempre foram excluídos pela sociedade, em um jogo de “sobreviva se puder”. Cadeia, violência, abuso sexual, drogas, e os valores exclusos como o reconhecimento, o apreço a tolerância, o respeito e o amor ao próximo fora de cogitação.
A direção musical é de Bia Nogueira.

SERVIÇO – TEATRO JARAGUÁ - Rua Martins Fontes, 71 - Centro.  Tel.: 3255-4380 - Sextas e sábados: 21h; domingo, às 19h. Ingressos: R$60,00. De 12/07 a 08/09/19. Duração: 80 minutos. 16 anos.