quarta-feira, 26 de setembro de 2018



Pedro Cosmos

QUARTO 19 –
Construído a partir do conto da escritora britânica DORIS LESSING e dirigida pelo excelente LEONARDO MOREIRA, o monólogo indica AMANDA LYRA ao Prêmio Shell 2018 de Melhor Atriz, sendo um enorme sucesso de crítica e público.

A atriz convence, está livre, leve e solta, além de uma beleza que transcende, sabe conquistar a plateia com sua interpretação ímpar.

Fotos: Cris Lyra
A peça conta a história de uma mulher de classe média casada e com quatro filhos que se vê despersonalizada pelo casamento burguês, pela maternidade e pela fragmentação de sua identidade feminina. Mulher de classe média que vive o que se conhece como um vida perfeita: tem um marido bonito e amoroso, três lindos filhos, uma bela casa, estabilidade material. Após anos sem trabalhar fora por escolha própria, para se dedicar à criação dos filhos, ela espera o momento em que o mais novo entrará para a escola, quando finalmente voltará a ter algum tempo para si. Mas quando isso acontece, ela não encontra dentro de si a liberdade que buscava. Numa tentativa de se livrar da irritação doméstica e do intenso ritmo familiar, ela decide alugar um quarto de hotel no centro da cidade, o quarto 19.
As questões abordadas pelo texto e pela encenação de Quarto 19 dizem respeito principalmente às mulheres, mas não só a elas. Nesse conto, Lessing aborda com simplicidade e força alguns de seus temas mais persistentes, como o cabo de força entre o desejo humano e os imperativos do amor, da traição e da ideologia, as tensões entre o doméstico e a liberdade, a responsabilidade e a independência. A construção da identidade, o trabalho para estabelecê-la, defini-la e refiná-la, talvez seja o fio que liga

SERVIÇO - TEATRO VIVO - Av. Dr. Chucri Zaidan, 2460, Morumbi – Fone: 3279-1520. Sábados: 21h, domingos: 19h. Ingressos: R$40,00. Duração: 75 minutos.
Classificação: 16 anos. Temporada: de 22 de setembro a 07 de outubro.

sexta-feira, 21 de setembro de 2018



Pedro Cosmos

NAVALHA NA CARNE

TONIA CARRERO, EMILIANO QUEIROZ e NELSON XAVIER viveram os polêmicos personagens há 50, sob o olhar de FAUZI ARAP. Tônia ganhou credibilidade da crítica, acostumada a vê-la interpretar personagens refinadas e se abster de toda a sua beleza e elegância em um personagem caótica, beirando a marginalidade, entrega esta, que lhe rendeu prêmios de melhor atriz.

O texto mais censurado de Plínio Marcos, completando 50 anos de existência, está em cena no teatro do SESC BOM RETIRO, tendo GUSTAVO WABNER muito bem vindo à sua primeira direção. A montagem homenageando Tônia Carrero foi idealizada por sua neta, a atriz  LUISA THIRÉ, a qual fala emocionada sobre o carinho pela sua avó:  “Em cada cena, cada palavra, cada texto, cada palco em que eu pisar, minha avó estará comigo, sempre”.

Luisa interpreta Neuza Suely, dividindo a cena com ALEX NADER, intérprete do Cafetão Vado e RANIERI GONZALEZ, o homossexual Veludo.  A atriz está perfeita na sua composição e interpretação politicamente correta, irretocável, aliás, o elenco está formidável.

                                                                                         Foto: Victor Hugo Cecatto

O espetáculo é uma navalha que corta até o fundo da alma, mostrando a realidade de uma vida marginal. Vários conflitos como a violência, a crueldade com o homossexual e contra a mulher de maneira forte, impactante, vivido de maneira muito real.
As ações se passam no barraco da prostituta, exibindo uma extrema pobreza, personagens sem escrúpulos, sem nenhuma moral e a tortura psicológica berrante, se mostrando presente até hoje na sociedade.

A violência transita entre dó e a piedade daquela pobre prostituta decadente que se sujeita a aceitar a “dupla vida”, escondendo a idade e sendo violentada a cada momento ao ser xingada da de velha, aliás, pagando um preço muito alto. O texto tem muitos palavrões, sem nenhum segredo, pois são todos cabíveis no cotexto e já não são soam berrantes como antigamente a ponto de ser censurados. Já se tornaram  culturais, embora ainda causam indignação de alguns puritanos na forma espontânea a qual são falados.

SERVIÇO: SESC BOM RETIRO – Alameda Nothmann, 185– Bom Retiro - Informações: 3332.3600 – Sexta e Sábado às 21h | Domingo às 18h.  Ingressos: R$ 30,00 - 291 lugares. Duração: 75 minutos. 16 anos. Até 30 de setembro.

quarta-feira, 19 de setembro de 2018



Pedro Cosmos

CASA DE BONECAS 2
O espetáculo estreou no SESC ANCHIETA e estende a temporada no Tucarena, com alguns ajustes em prol da concepção do espaço, prometendo ficar em cartaz até 2 de dezembro, com sessões às sextas-feiras, às 21h; aos sábados, às 20h; e aos domingos, às 18h. 
MARÍLIA GABRIELA, LUCIANO CHIROLLI, ELIANA GUTTMAN E CLARISSA KISTE compõe o elenco da peça CASA DE BONECAS 2, com excelentes interpretações.

                                                                                                              Foto: Miro

Com tradução de MARCOS DAUD, REGINA GALDINO dirige o texto criado pelo jovem dramaturgo norte-americano Lucas Hnath, sendo uma continuação da clássica peça do norueguês Henrik Ibsen, com narrativa abordando o retorno de Nora Helmer à casa de sua família, quinze anos depois de tê-la abandonado.  Agora escritora bem sucedida, a personagem volta para oficializar o divórcio.

Diálogos muito bem escritos e falados com muita classe transforma o espetáculo em um grande “Teatrão”. Bons conflitos é o que não faltam, visto que ela abandonara o lar, os filhos e o marido e não se mostra com nenhuma parcela de culpa, sendo recriminada inclusive pela empregada. A liberdade e a bandeira levantada ao feminismo imperam no texto fazendo com que cada um tenha a sua própria conclusão do “certo e errado” quanto aos ideais revolucionários sobre o amor livre e contra o casamento.



SERVIÇO:  TUCARENA – Rua Monte Alegre, 1024 – Perdizes, fone: 3670-8453 - Temporada: 14 de setembro a 2 de dezembro – sextas: 21h; Sábados: 20h; Domingo:18h. Ingressos: R$ 80,00. Duração: 100 minutos. Classificação etária: 14 anos

terça-feira, 11 de setembro de 2018


Pedro Cosmos
POUSADA REFÚGIO – A comédia dramática com texto de LEONARDO CORTEZ dispensa qualquer comentário sobre a sua carpintaria e grandiosidade. È muito intrigante com uma dramaturgia rica, com conflitos intrínsecos, pegada psicológica, diálogos muito bem construídos, com todas as possibilidades para um ator se debruçar e pirar na interpretação, ou seja, um presente.

Para o espectador é vivenciar um teatro com belíssimas interpretações que fazem refletir, sorrir, se odiar, além de se postar no lugar do outro.

A direção do experiente e talentoso PEDRO GRANATO é perfeita. Tudo transformado em ação, desenhos de cena que prendem a plateia, promovendo o melhor do teatro.


Em Pousada Refúgio, o Publicitário Zé Carlos (LEONARDO CORTEZ) e sua mulher Walkíria (GLAUCIA LIBERTINI), recebem para jantar o casal Professor Pardela (MAURÍCIO DE BARROS) e a Psicóloga Cleide (TATIANA THOMÉ) para brindarem a amizade de longa data e o desejo de construir uma pousada bem distante da cidade no meio da natureza. Entre um gole e outro, festejam a maquete da pousada refúgio e várias situações vão surgindo, revelando algo muito comprometedor fazendo com que o sonho do grupo se desmorone, tendo Ronaldo (DANIEL DOTTORI) como preparador da festa. O vínculo de amizade toma outro rumo quando se trata do dinheiro investido e o uso que foi feito com ele leva a um embate conflitante.

Os atores estão impagáveis em seus papéis, promovendo cenas hilariantes ressaltando em um teatro de altíssima qualidade, sendo meritórios de todos os prêmios. Ressalto aqui a grandiosidade do ator MAURÍCIO DE BARROS o qual se mostra um artista que oscila entre todos os gêneros do teatro promovendo cenas plausíveis. Explica-se porque em plena terça feira friorenta o teatro se encontra lotado.

Fotos: Ana Alexandrino


SERVIÇO: TEATRO VIVO - Av. Dr. Chucri Zaidan, 860 - Vila Cordeiro – fone: 97420-1520 - Terças-feiras: 20h; Ingressos: R$ 40; Duração: 1h20 minutos. Classificação: 14 anos.  274 lugares. Até 18/09/18.

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

LUZ DEL FUEGO

Pedro Cosmos

Depois da bem sucedida montagem de LILI CARABINA, o autor JULIO KADETTI, emplaca outro épico. Dessa vez, traz LUZ DEL FUEGO, com narrativa vinda em boa hora para dialogar com o atual momento político  e social brasileiro. 

Luz Del Fuego foi uma das vedetes mais conhecidas do teatro de revista dos anos 50, famosa por dançar enrolada com cobras, ser uma das precursoras do naturismo no Brasil contrariando toda a sociedade, envolveu-se politicamente batalhando pelos direitos das mulheres, ou seja, uma mulher aquém do tempo que enxergava a liberdade de expressão como fundamental na sua vida, extinguindo toda e qualquer forma de convenções. Era totalmente contrária a vida pacata que levava diante da família e se sentir sufocada diante da religiosidade não cabia para uma artista que pensava a liberdade em todos os seguimentos como fundamental. A ruptura foi súbita e ao ser internada como louca, deixou Belo Horizonte fugindo para o Rio de Janeiro, aonde alcançou o estrelato. De família influente, era perseguida inclusive pelos familiares, que envolta da política, a carreira dela poderia ser negativa a imagem do irmão senador. Também muito perseguida pela polícia, já que praticava atentado ao pudor e aos bons costumes. A artista enfrentava sem medo, mas acabou aceitando a chantagens do irmão para sumir de vez da vida dele. 
Apesar da popularidade de seus espetáculos, a artista sofreu dificuldades financeiras em seus últimos anos de vida. A artista foi assassinada, juntamente com o seu caseiro. Há boatos que tenha sido por dois pescadores na Ilha que ela batizara de Ilha do Sol. (19 de julho de 1967). Seu corpo foi lançado ao mar, e recuperado no mês seguinte.

Para viver a personagem título, a produção de LUZ DEL FUEGO generosamente apostou todas as fichas em uma personalidade que tem muito em comum com a homenageada. Caiu muito bem a escolha de RITA CADILLAC, pela ruptura de convenções sociais, não se prendendo a hipocrisias e enxergando nela uma cidadã politizada, corajosa e engajada na sociedade no que diz respeito às mulheres, revezando o papel com a atriz ELISA ROMERO que faz a personagem na fase jovem. Rita é grata pela confiança depositada, sabendo da responsabilidade que é pisar nos palcos como atriz.

Elisa Romero e Rita Cadillac - Foto: Marcelo Focoimage
ELISA ROMERO está livre, leve e solta no papel, apesar de ser a primeira peça profissional percebe-se muito preparo, carisma e excelente desempenho corporal, jogando muito bem em uma personagem que ressalta ousadia, além de exigir um preparo excepcional. A moça tem talento e muita contribuição dará ao teatro paulista.

ANA SAGUIA, escolha perfeita para viver a mãe de Luz dá um show de interpretação. Sua personagem está irretocável.

A direção ficou a cargo de MACIEL SILVA, tendo como assistente de direção GEORGINA CASTRO. Maciel acumula a função de ator interpretando a travesti Jojô, se mostrando um excelente comediante, sua personagem está muito bem construída e seus diálogos são ricos em ação dramática, parece ter sido escrito pensando nele, se encontrando desprovido de todos os pudores em um papel que é destaque, elevando a comédia no espetáculo. O artista joga muito bem com o experiente parceiro de cena ARNALDO D`AVILA,  o qual vive o Senador, que como nos contos de fadas é uma espécie de ajuda mágica para Luz, utilizando seu poder politico a salva da prisão, ordenando ao Delegado (VITOR WAGNER) que seja cauteloso e, além de libertá-la, a proteja.

O elenco conta ainda com ARNALDO GIANNA, CLEBER COLOMBO, que capricha na comicidade, LEONCIO MOURA, LETYCIA MARTINS E YURI MARTINS. O novelista Aguinaldo Silva surge em áudio. Parte do elenco e demais profissionais participaram de Lili Carabina o que deixa o núcleo bem familiar e com ares de Cia.

SERVICO - TEATRO JARAGUÁ – Rua Martins Fontes, 71, região central - fone: 3255-4380 – sábado 21h, Dom 21h. 90 min. Até 21/10. Ingresso: 60,00 a 80,00. 16 anos.